Diálogo Entre Solos: Adaptação Climática e Agricultura
ONDE: FGV – SP, 13h – híbrido
04 de setembro de 2024
QUERO SABER MAISVocê deve estar acompanhando as notícias de protestos de agricultores pela Europa. Imagens de produtores rurais bloqueando ruas com seus tratores e se manifestando contra o Parlamento Europeu têm sido vistas com maior ou menor intensidade em países como França, Holanda, Bélgica, Polônia, Grécia, Romênia, Eslováquia, Hungria, Bulgária, Espanha, Itália e Alemanha. O motivo? Um conjunto de descontentamentos que podem ser resumidos como queda dos preços na venda dos alimentos, aumento dos custos de produção, regulamentações rigorosas, dívidas, problemas decorrentes das mudanças climáticas e importações estrangeiras.
Um denominador comum que impacta a produção, a distribuição e a venda de produtos agrícolas é uma consequência direta da guerra na Ucrânia. Em resposta ao bloqueio das rotas comerciais através da região do Mar Negro, a União Europeia (UE) promoveu restrições temporárias às importações da Ucrânia. Mas, a medida fez com que alguns produtos agrícolas ucranianos chegassem aos mercados da UE a preços mais baixos, principalmente para os países vizinhos como Hungria, Polônia e Romênia.
Além do aumento de importações, os agricultores do bloco europeu argumentam que os custos da energia, dos fertilizantes e dos transportes aumentaram, especialmente após o início do conflito entre Rússia e Ucrânia.
Agravando a situação, as mudanças climáticas têm provocado fenômenos extremos. Como por exemplo seca, inundações e queimadas, em todo o mundo, afetando a produção de alimentos. Ao mesmo tempo, novas regras estão sendo implementadas para tentar minimizar a contribuição do setor agrícola, que é responsável por 11% das emissões de gases de efeito estufa na UE.
Fato que tem elevado os questionamentos dos agricultores europeus à transição nos modos de produção prevista no Pacto Ecológico Europeu (Green Deal). Na perspectiva deles, as metas de redução de 50% no uso de pesticidas até 2030, de fertilizantes em 20%, de dedicar mais terras a utilizações não agrícolas e duplicação da produção orgânica para 25% de todas as terras agrícolas deveriam vir acompanhadas de aumento de suporte financeiro.
Na França, maior produtor agrícola da UE, responsável por 18% da produção do bloco, o principal questionamento é referente à retirada de subsídios. Além do, aumento nas taxas de consumo de água e restrições ao uso de pesticidas impostas pelas regulamentações da UE.
Todo esse contexto também reforçou os debates sobre a concorrência desleal. Desse modo, um elemento crítico tem envolvido as negociações para concluir um acordo comercial abrangente entre o bloco e o Mercosul. Os agricultores europeus estão preocupados com a perspectiva de competição injusta envolvendo açúcar, cereais e carne.
Partindo do princípio de que agricultura é uma atividade essencial para a segurança alimentar, o setor recebe apoio no mundo todo. Contudo, os percentuais de incentivo variam muito entre os países. Para você ter uma ideia, com base nos dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no Brasil, o subsídio do país em relação à receita bruta do produtor é de 1 a 2%. Ao passo que, nos Estados Unidos e China os percentuais giram em torno de 12%. E a União Europeia subsidia cerca de 20% em relação a renda bruta do produtor.
O gráfico elaborado pelo Insper Agro Global com dados da OCDE revela as diferenças de subsídios.
Diante do cenário, os governos dos países europeus têm intensificado os diálogos com os agricultores. Bem como, tratativas buscando conciliação e redução de conflitos, que poderão envolver inclusive, renúncias de metas climáticas por parte da UE. Ainda, nesse processo, segundo especialistas do setor, as manifestações poderão acelerar a implementação de novas regras ambientais aos fornecedores europeus – categoria na qual o Brasil se insere, como uma forma de atenuar os movimentos internos da UE. Em outras palavras, a transição para uma produção vinculada às agendas climáticas, deverá superar as fronteiras. Resta saber o quanto estamos preparados para uma transição justa a todos.
Principais fontes:
Agricultural prices fell in the third quarter of 2023. Disponível em: https://ec.europa.eu/eurostat/web/products-eurostat-news/w/ddn-20231220-2
Agricultural support. OCDE Data. Disponível em: https://data.oecd.org/agrpolicy/agricultural-support.htm
Pacto Ecológico Europeu. Disponível em: https://commission.europa.eu/strategy-and-policy/priorities-2019-2024/european-green deal_pt#:~:text=O%20Pacto%20Ecol%C3%B3gico%20Europeu%20garante,financiar%20o%20Pacto%20Ecol%C3%B3gico%20Europeu.
Price indices of agricultural products, output. Eurostat Data. Disponível em: https://ec.europa.eu/eurostat/databrowser/view/APRI_PI15_OUTQ__custom_7492106/bookmark/table?lang=en&bookmarkId=db494c67-3de2-4e3c-a429-4b2e795ab444
Price indices of the means of agricultural production, input. Eurostat Data. Disponível em: https://ec.europa.eu/eurostat/databrowser/view/APRI_PI15_INQ__custom_7492101/bookmark/table?lang=en&bookmarkId=c0172a61-113a-4049-9be5-7102f7297b5c
Protestos de agricultores na Europa: desafios de competitividade e impactos no agro brasileiro. Disponível em: https://agro.insper.edu.br/midia/noticias/protestos-de-agricultores-na-europa
The European Green Deal. European Commission document. Disponível em: https://commission.europa.eu/document/daef3e5c-a456-4fbb-a067-8f1cbe8d9c78_en
Foto principal: Adobe Stock
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