A decisão sobre onde expandir a produção de alimentos, mantendo as florestas e os ambientes naturais preservados, é um desafio para produtores e empresas do setor agropecuário. Ao mesmo tempo, o reflorestamento e a inclusão de árvores em sistemas produtivos pode ser a chave para uma produção agrícola que não avance nas florestas naturais, que proteja o solo, melhore a qualidade da água e gere emprego e renda no meio rural.

Para que tudo isso aconteça, os sistemas de monitoramento de uso da terra cumprem um papel crucial. No entanto, a consolidação desses sistemas demanda expertise técnica e investimento em pesquisa e desenvolvimento. A boa notícia é que temos gente e instituição referência nesse setor no Brasil.

Fomos conhecer um pouco mais sobre esse assunto, entrevistando a coordenadora do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), Elaine Barbosa da Silva, que é geógrafa, especialista em Geoprocessamento, mestre e doutora em Geografia.

Confira a entrevista!

Qual a importância do monitoramento de dados por satélite para a agricultura e pecuária sustentável?

O monitoramento de uso e coberturas das terras nos biomas brasileiros, é fundamental para as ações de ocupação em áreas propícias, seja pela agricultura ou pecuária. Também é importante para orientar onde devemos preservar ou recuperar áreas de vegetação nativas e implementar ações de proteção ambiental.

Quais são os projetos mais importantes que o Lapig desenvolve?

Podemos citar cinco projetos principais que fazem parte do nosso dia a dia:

– Mapeamento e monitoramento das pastagens brasileiras: Essa atividade é fundamental para otimizar o uso das pastagens, identificar seu vigor ou degradação. A pastagem é a classe de maior uso das terras no Brasil. Essas áreas precisam ser otimizadas, visando maior produtividade e podem ser destinadas para expansão de agricultura e assim evitar o avanço do desmatamento em áreas de vegetação nativa.
– Análise e refinamento de dados de desmatamento junto à Rede MapBiomas, para os biomas Cerrado e Amazônia. Esses dados são disponibilizados na Plataforma MapBiomas Alerta e tem apoiado ações de fiscalização de desmatamentos ilegais.
– Estudos relativos a queimadas no bioma Cerrado. O bioma Cerrado sofre imensamente com essa prática, que na maioria das vezes é feita por ações antrópicas. O núcleo de pesquisa em Ciência do Fogo (NEPEF), tem focado em compreender essas ações e auxiliar no seu combate. Dentre as ações destaca-se curso de formação para brigadistas.
– Mapeamento e monitoramento detalhado com drones. Temos atuado em áreas especiais como monitoramento de pivôs de agropecuária, mapeamentos e monitoramento de Áreas de Preservação Permanente (APPs), agricultura de precisão, entre outros.
– Geotecnologias para o Ensino Escolar. Os dados gerados com sensoriamento remoto e geoprocessamento, bem como o seu acesso, tem grande potencial de auxiliar no processo de formação escolar. Por meio de ações junto ao projeto Lapig na Escola, tem-se apoiado nas capacitações de professores da rede escolar e desenvolvido oficinas para crianças e jovens com ferramentas e dados geográficos.

Como o LAPIG contribui para a compreensão e o monitoramento das mudanças ambientais e do uso da terra?

O Lapig contribuiu de forma direta com ações de monitoramento ambiental e gestão territorial. Um processo que envolve ensino, pesquisa e extensão. Desta forma, entregamos à sociedade profissionais capacitados, ou seja, recursos humanos. E ainda, disponibilizamos dados gratuitos de extrema relevância para a compreensão do uso e cobertura das terras no Brasil. Estamos sempre abertos para parcerias que visem potencializar o uso sustentável dos recursos naturais bem como àquelas voltadas para a recuperação e preservação ambiental.

Sobre o Lapig

O Lapig é uma unidade de pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG) que desenvolve pesquisas e projetos voltados ao processamento e análise de imagens de satélite e geoprocessamento. Criado em 1994, o Laboratório vem se consolidando e alcançando reconhecimento internacional como uma referência em estudos relacionados a monitoramento ambiental e gestão territorial.