Água

Água / 17/11/2021

O consumo sustentável da água no campo

A conservação da água é responsabilidade de todos e a agricultura defende essa causa

Destacada em dois dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) (vida na água e água potável e saneamento), a água é um recurso natural essencial para a vida na Terra e necessário para a produção de alimentos. Afirmação incontestável, não é?! Mas você sabia que a agricultura é responsável por quase 70% do consumo de água do planeta? Sim! E é natural que você fique preocupado quando se depara com esse desdobramento tão crítico.  A boa notícia é que não faltam pesquisas e soluções voltadas à conservação do recurso na produção agrícola. Pesquisadores incansáveis têm buscado investigar caminhos sustentáveis que incorporam ciência, inovação, conhecimento tradicional e muita colaboração de quem coloca as mãos na terra.

Quer um exemplo? O Guia de melhores práticas pecuárias da planície pantaneira é material elaborado por especialistas para orientar produtores rurais sobre como conciliar a produção com a manutenção do ritmo, amplitude e duração das áreas úmidas do Pantanal – principal fonte de água daquela região. A publicação, lançada em julho de 2021, é iniciativa da WWF-Brasil, Embrapa Pantanal e Wetlands International.

Você sabe qual é o volume de água do planeta?

 

A precipitação, ou seja, a água das chuvas que cai sobre a Terra é de quase 110 mil km3 por ano. Cerca de 56% desse volume é transformado (evapotranspirado, para usar um termo mais específico) por florestas e paisagens naturais e 5% pela agricultura que não é irrigada. Os 39% restantes ou 43 mil km3 por ano são escoados pela superfície, alimentando rios e lagos ou infiltrados no solo em profundidade, o que acaba recompondo aquíferos. Estes são os chamados “recursos renováveis de água doce”. E, como salienta Neidiqueli Silveira, pesquisadora do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas (SP), “é importante considerar que boa parte da água utilizada no campo, retorna para a natureza”. “O que as plantas não consomem, volta para o ambiente através da evaporação ou penetração no solo. E a água que chega no solo recompõe o lençol freático”, acrescenta.

Autorização para o uso da água

 

O recurso tão necessário tem volume controlado

Não importa se a água vai para o campo ou para cidade, a fonte é a mesma: os lençóis freáticos, aquíferos, rios e lagos. E não há saída, pois os cursos d’água e as chuvas são os responsáveis por abastecer os reservatórios aquáticos. A chuva aparece, então, como uma das principais fontes de água para a agricultura. Muitos produtores dependem somente dela para o sucesso de sua produção. Quando não vem dos céus, o recurso utilizado na agricultura é retirado de rios e aquíferos. Mas isso não é algo que acontece sem regras e limites. O uso da água no campo precisa ser autorizado e é controlado em volume. Além de várias normas estaduais e municipais, a gestão dos recursos hídricos está vinculada a uma lei específica no Brasil, conhecida como Lei das Águas, Lei no 9.433/97, que estabelece a Política Nacional de Recursos Hídricos.

Então, não existe uso de água sem autorização. Para retirá-la em grandes quantidades dos rios, nascentes e até para a abertura de poços, é necessário obter a chamada “outorga de direito de uso”. Essa permissão é necessária para qualquer atividade humana que possa provocar alterações nas condições naturais das águas, tanto em quantidade como em qualidade, como abastecimento, geração de energia e irrigação, entre outros. Desta forma, pode-se controlar a quantidade de água que é retirada dos mananciais e do lençol freático, garantindo o uso responsável desse nosso precioso recurso.  Quer saber como agricultores “produzem água”? Conheça o programa da Agência Nacional de Águas (ANA), também apoiado pela WWF-Brasil.

Riscos

 

A produção agrícola pode afetar negativamente a qualidade da água, como aconteceu na região do Alto Uruguai, no Rio Grande do Sul. Pesquisa identificou o acúmulo de metais pesados e resíduos de práticas agrícolas afetando a saúde de caranguejos de água doce na região. Que sirva, portanto, de alerta para a qualidade da água que abastece as comunidades locais. E não perder de vista que, na agricultura, é importante adotar medidas que minimizem os impactos, para todos. Como fazê-lo? A base é o treinamento contínuo de agricultores para adoção de boas práticas agrícolas e educação ambiental, causas que devem ser também de todos.

Fiscalização

 

Os órgãos ambientais de estados e do Brasil são os responsáveis por fiscalizar como a água é utilizada. A ANA (Agência Nacional das Águas) conduz a análise técnica para a emissão da outorga de direito de uso da água em corpos hídricos de domínio da União (lagos, rios e outros cursos de água que passam por mais de um estado ou que sirvam de com outros países ou estados). Para os corpos hídricos de domínio dos Estados, a solicitação deve ser feita ao órgão gestor estadual de recursos hídricos.

Saiba que também cabe à agência fiscalizar os usos de recursos hídricos nos corpos d’água de domínio da União, além de supervisionar as ações voltadas ao cumprimento da legislação federal sobre o tema.  A ANA ainda realiza a análise técnica das solicitações do Certificado de Sustentabilidade de Obras Hídricas (CERTOH) e a implementação e o gerenciamento do Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos (CNARH). A água é de todos e fiscalizar é necessário!

A importância de otimizar o uso da água no campo

 

Nos primórdios da agricultura, em regiões com clima favorável, as lavouras dependiam apenas da chuva. Mas o homem percebeu que, mesmo nos lugares secos com um rio nas proximidades, era possível levar a água até os cultivos. Foi assim que surgiram os primeiros sistemas de irrigação. Eles permitiram que as antigas civilizações –  como os povos do Egito e da Mesopotâmia – prosperassem. Nos últimos 30 anos, os avanços foram muitos e a modernização da agricultura fez da captação e utilização de recursos hídricos elementos-chave para a expansão sustentável dos cultivos e da produtividade.

Um dos sistemas de irrigação mais econômico é o de gotejamento. Com esse sistema, a água é liberada em pequenas quantidades ao pé da planta, diretamente sobre o solo. Assim, é possível atingir uma redução de 50% no consumo de água, viabilizando a produção de diversas culturas, como hortaliças e frutíferas, no Brasil e no mundo.

“A agricultura irrigada é uma ferramenta estratégica para garantir ou aumentar a produção nos lugares onde falta chuva. Uma solução adotada pelo homem desde a antiguidade. Hoje, a agricultura irrigada responde por 40% do total de alimentos produzidos no mundo. Com ela, é possível aumentar a produtividade em até três vezes”. (Eusímio Fraga)

Saiba então que o gotejamento economiza energia e água, pois repõe somente o que é necessário para que a planta atinja seu máximo potencial de produção, evitando perdas no solo, tanto em profundidade como por escoamento superficial. Além disso, com a instalação de sensores de umidade e utilização de imagens de satélite, os produtores rurais podem avaliar o melhor momento para irrigar suas lavouras, evitando o desperdício. Há diversas possibilidades disponibilizadas pelos pesquisadores para que a agricultura siga seu curso no presente e no futuro, crescendo.

Principais fontes

ANA – Agência Nacional das Águas, Outorga de direito de uso de recursos hídricos. Cadernos de capacitação em recursos hídricos, 2011.

Fortes, A. C. C. et al., A vigilância da qualidade da água e o papel da informação na garantia do acesso. Saúde em debate, 2020.

Malhotra, S. K. Increasing water use efficiency in agriculture sector with major emphasis on horticulture. Proceedings IV World Aqua Congress, 2010.

ONU. População mundial deve ter mais 2 bilhões de pessoas nos próximos 30 anos. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2019/06/1676601. Acesso em: 18/02/2021.

Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2021 (World Water Development Report – WWDR). Disponível em Versão original em inglês

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