Líderes Sustentáveis
ONDE: Gramado, RS
22 e 23 de abril de 2025
QUERO SABER MAISO solo é onde a vida começa. Essa é uma afirmação bastante conhecida e é bem provável que você já tenha se deparado com ela ao ler sobre produção de alimentos. O que talvez seja uma novidade para muita gente é que o solo pode ser o nosso maior aliado climático. A terra mais saudável não é boa apenas para a biodiversidade e a produção de alimentos, mas também para mitigar as emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Por outro lado, um solo degradado, mal-cuidado e com a saúde prejudicada, faz justamente o contrário, emite grandes quantidades de carbono. A boa notícia para um país agrícola como o Brasil é que a adoção de práticas sustentáveis no campo pode tornar os solos negativos em carbono, ou seja, eles passam a absorver carbono da atmosfera.
Quer entender melhor esse tema? Segue com a gente.
O Brasil possui uma grande diversidade de solos em toda a sua extensão, resultante da grande variedade de ambientes e de fatores de formação desse recurso. Nas 13 classes de solos apresentadas no Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS), a influência desses fatores pode ser percebida através da grande variabilidade de características químicas, físicas e morfológicas.
Além de conhecer os tipos de solos do Brasil, é preciso coletar informações detalhadas de cada região e integrar dados. Essa é a proposta do Programa Nacional de Solos do Brasil (PronaSolos), que reúne mais de 30 instituições públicas e privadas no desafio de promover uma melhor gestão dos solos do Brasil.
O solo considerado ideal para o plantio, deve ser fértil, bem drenado, ter um pH adequado, uma textura apropriada, profundidade suficiente e estar livre de contaminantes. Mas, já podemos prever que essas condições não são prontamente encontradas em todos os tipos de solo. Por exemplo, em solos arenosos, onde a água é drenada rapidamente, cactos e arbustos adaptados a climas secos podem prosperar. Já em solos ricos em matéria orgânica, como os humíferos de cor escura, o plantio é mais favorável. Ao mesmo tempo, esses solos também podem ser mais suscetíveis a doenças e pragas.
Em resumo, não há um tipo de solo único que seja ideal para todas as plantas. É importante escolher um solo que atenda às necessidades específicas das plantas a serem cultivadas e fazer adequações e adoção de práticas conservacionistas. Com plantio direto, rotação de culturas e outras práticas voltadas à conservação do solo, é possível obter bons resultados, mesmo em solos desafiadores.
Uma área está em processo de degradação quando perde o vigor, reduz a produtividade e sua capacidade de regeneração natural. É preciso identificar os sinais de degradação, o nível de degradação em que o pasto se encontra e analisar suas causas, para que se possa realizar as ações necessárias de manutenção ou recuperação, e assim garantir sustentabilidade e uma produção de qualidade.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) um terço das terras cultiváveis do mundo desapareceram nas últimas quatro décadas. Como consequência da degradação moderada ou alta, e da erosão do solo, que arrasta entre 20 e 37 bilhões de toneladas da camada superior do recurso anualmente, reduzindo a capacidade do solo de armazenar e reciclar carbono, nutrientes e água. Se as taxas atuais de perda continuarem, todo o solo superficial do mundo pode se tornar improdutivo em 60 anos.
As áreas de pastagens naturais e plantadas no Brasil somam cerca de 168 milhões de hectares. E, segundo levantamento do MapBiomas, 26,7% desta área está em estado de degradação severa, 38,7% moderadamente degradada e 41,1% em estado de degradação. A recuperação de áreas degradadas pode elevar a produtividade e mitigar as emissões de carbono.
Mesmo solos não considerados degradados, podem ser melhor aproveitados. Com a finalidade de maior produtividade, redução das emissões e máximo aproveitamento do recurso natural. Essa é a conclusão de estudo que avaliou a potencialidade de solos brasileiros. Os autores destacam que, embora apenas 30% do total da área agrícola brasileira seja utilizada para cultivo e pecuária, ainda podemos elevar o potencial de produção do solo, o que passa pela necessidade de sua avaliação dessas áreas com metodologias específicas.
As pastagens desempenham um papel crucial na proteção do solo, mantendo-o coberto de forma uniforme. A recuperação de pastagens representa uma oportunidade de captura de carbono e de ganhos de produção sem a supressão de áreas com vegetação nativa, contribuindo para o desmatamento evitado nas propriedades rurais.
E se você ainda acredita que não vale a pena investir em recuperação de solos, um estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) revelou que o valor necessário para a recuperação de pastagens na Amazônia chega a ser 72% menor do que o custo de abertura de novas áreas por meio do desmatamento.
Além disso, o estudo realizado pela pesquisadora Jacqueline McGlade, ex-cientista-chefe do programa ambiental da ONU e da Agência Europeia do Meio Ambiente revelou que se metade dos solos agrícolas do mundo passassem por mudanças para armazenar 1% a mais de carbono, já seria suficiente para absorver as cerca de 31 gigatoneladas de dióxido de carbono por ano. Esta taxa estimada se aproxima da diferença de 32 gigatoneladas entre a atual redução de emissões planejada globalmente por ano e a quantidade de carbono que ainda deve ser cortada até 2030 para o mundo controlar a alta do termômetro e cumprir o Acordo de Paris. Em outras palavras, o estudo mostra como a melhoria das técnicas agrícolas em todo o mundo pode levar ao armazenamento de 31 gigatoneladas de dióxido de carbono por ano e ajudar o planeta a se manter dentro da meta de aquecimento de 1,5°C.
O solo é um dos quatro grandes reservatórios de carbono do planeta, junto da atmosfera, dos oceanos e das plantas. No entanto, quando está em estado de degradação, esse recurso pode liberar gás carbônico e metano para a atmosfera, agravando as mudanças climáticas.
No Brasil, segundo mapeamento do MapBiomas, estima-se que o solo armazene o equivalente a 70 anos de emissões de CO2 do país. Isso destaca a importância da preservação da vegetação e dos cuidados com a conservação do solo, que contribuem para a absorção de carbono.
Portanto, precisamos acelerar e dar escala à restauração dos solos no país. Para isso, devemos intensificar as ações de planejamento e capacitação, Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), financiamento, pesquisa, desenvolvimento e monitoramento. Isso fornecerá uma estrutura integrada para promover práticas agrícolas sustentáveis e restaurar ecossistemas degradados, impulsionando a transição para um modelo agrícola mais sustentável e resiliente.
Confira o infográfico e entenda a importância do solo para um futuro sustentável.
Greschuk, L.T et al. A soil productivity system reveals most Brazilian agricultural lands are below their maximum potential. Nature 14103, 2023. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41598-023-39981-y
MapBiomas. Mapeamento inédito indica que o Brasil estoca no solo o equivalente a 70 anos das emissões de CO2 do país. Disponível em: https://brasil.mapbiomas.org/2023/06/21/mapeamento-inedito-indica-que-brasil-estoca-no-solo-o-equivalente-a-70-anos-das-emissoes-de-co2-do-pais/
The Guardian. Improving soil could keep world within 1.5C heating target, research suggests Disponívelem:https://www.theguardian.com/environment/2023/jul/04/improving-farming-soil-carbon-store-global-heating-target
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