Meio Ambiente

Meio Ambiente / 03/10/2022

Impactos do aquecimento global variam conforme região

Estudos alertam para a degradação da qualidade de vida em consequência da transformação do clima

Com o passar do tempo, as mudanças climáticas têm ocupado cada vez mais espaços nas discussões com relação à vida na Terra. Apesar de ser importante olhar para o futuro, os impactos já podem ser sentidos, influenciando até mesmo a qualidade de vida da população. O aquecimento global, um dos fenômenos relacionados às mudanças climáticas, demonstra fortemente como a ação humana propicia mudanças na dinâmica natural do planeta. No entanto, apesar de acontecer no mundo todo, ele não afeta as pessoas e regiões de maneira igual.

O novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) divulgado no primeiro semestre deste ano traz um cenário muito preocupante. O estudo revela que as mudanças climáticas estão afetando o mundo todo, com impactos muito mais graves se não reduzirmos as emissões de gases do efeito estufa pelo menos pela metade ainda nesta década.

Concentrados em países em desenvolvimento, o IPCC aponta que atualmente existem 3,3 bilhões de pessoas vivendo em alta vulnerabilidade aos impactos climáticos, especialmente no Ártico, Sul da Ásia, América Central, América do Sul e em grande parte da África Subsaariana.

Impactos no Brasil

O Brasil está contemplado na lista do IPCC que aponta os países da América do Sul como os mais afetados pelas mudanças climáticas. Especialmente aquelas nações que são submetidas à desigualdade, conflitos e desafios de desenvolvimento como a pobreza, governança ineficiente e acesso limitado a serviços básicos, como saúde. O relatório revela que nas nações mais vulneráveis, a mortalidade em decorrência de secas, tempestades e inundações entre 2010 e 2020 foi 15 vezes maior do que em países de baixa vulnerabilidade.

Nosso país tem em seu DNA a história da seca. Um relatório divulgado pelo Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), divulgado em julho deste ano, apontou crescimento da seca nos últimos dois anos principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. No último dia 17 de junho, o mundo voltou sua atenção para o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, com discurso de António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas. Em suas palavras, ele reforçou a necessidade de restaurar as terras degradadas: “A degradação do solo devido às mudanças climáticas e à expansão da agricultura, das cidades e das infraestruturas prejudica o bem-estar de 3,2 bilhões de pessoas.” E concluiu: “Restaurar terras degradadas removeria o carbono da atmosfera. Ajudaria as comunidades vulneráveis a adaptarem-se às mudanças climáticas. E poderia gerar 1,4 trilhão de dólares extras na produção agrícola a cada ano. A melhor parte é que a restauração de terras é simples, barata e acessível a todos. É uma das formas mais democráticas e pró-pobres de acelerar o progresso em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.”

É possível notar as transformações do clima em intensidades diferentes de acordo com a região brasileira. Isso sem contar com a desigualdade na forma como o aquecimento global afeta os cidadãos. Ainda de acordo com o relatório do IPCC, quanto maior o nível de subdesenvolvimento de uma população, maior é a exposição aos efeitos climáticos negativos. Entre 2010 e 2020, a mortalidade humana em decorrência de problemas causados pelo clima foi 15 vezes maior em regiões altamente vulneráveis quando em comparação com as de baixa vulnerabilidade. Regiões que enfrentam a seca, por exemplo, assistem à queda na qualidade de vida. Mesmo com a busca por estratégias como a transposição do Rio São Francisco, diversas famílias brasileiras não têm água tratada. Por isso, o pouco de água que chega à região não pode ser utilizado para suas necessidades básicas, como manutenção da higiene e alimentação.

No nordeste do Brasil, as áreas semi-áridas e áridas já começam a sofrer uma redução dos recursos hídricos. Novamente nas previsões do relatório do IPCC, estão a substituição da vegetação semi-árida por uma vegetação árida; nas florestas tropicais, poderá ocorrer extinção de espécies. E consequentemente, haverá também perda de muita biodiversidade, que é a maior riqueza brasileira. A recarga dos lençóis freáticos irá diminuir muito, em torno de 70% ou mais em todo o nordeste brasileiro, na comparação com índices de 1961-1990.

No Cerrado, entre 38% e 45% das plantas correm risco de extinção se a temperatura na região atingir 1,7°C em relação aos níveis da era pré-industrial. O planeta, ainda segundo o IPCC, já está 0,7°C mais quente que na era pré-industrial!

Ainda na lista de impactos relatados no último relatório, o sudeste já sofre e sofrerá mais com chuvas em larga escala, com impacto direto na agricultura e nas inundações das grandes cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo.

Na Amazônia, tem se verificado um grande aumento da seca, especialmente durante a fase de crescimento da vegetação, por causa da elevação da temperatura e da diminuição das chuvas no verão. A conversão de florestas em lavouras afeta o clima, porque altera o fluxo de calor, causando o aumento de temperatura adicional no verão em regiões importantes do bioma. Na região leste do país, o aumento da temperatura e a falta de água no solo poderão causar a savanização, ou seja, perderemos a vegetação natural, de floresta tropical, para dar lugar à paisagem de cerrado, ou semelhante às savanas africanas, com campo seco, ralo, poucas árvores e menor quantidade de folhas.

Impactos no mundo

De acordo com um estudo divulgado em 2021 pelo periódico Science Advances, as regiões mais industrializadas do planeta, como a Europa Ocidental e o nordeste da América do Norte, são responsáveis pelas maiores emissões de gases causadores do efeito estufa. Em contrapartida, essas não são as áreas mais afetadas pelas consequências climáticas. Segundo especialistas, isso acontece porque os poluentes comuns nos processos industriais que acontecem nessas regiões têm consequências de longo alcance territorial.

Regiões com as mais baixas taxas de emissão de poluentes, como Finlândia e Alasca, são diretamente afetadas pelas maiores potências industriais, lidando ainda mais com os efeitos do aquecimento global, como a elevação da temperatura média.

Projeta-se ainda, segundo o mesmo estudo do IPCC, que a limitação do aquecimento global a 1,5°C, comparado a 2°C levará a reduções líquidas menores em lavouras de milho, arroz, trigo e potencialmente em outros cereais, particularmente na África Subsaariana, sudeste da Ásia e América Central e do Sul. Também a qualidade nutricional de grãos que dependem de CO2, como o arroz e o trigo, devem ser afetados. A pecuária deverá ser afetada negativamente pelas temperaturas altas, dependendo da extensão das mudanças na qualidade da alimentação, propagação de doenças e disponibilidade de recursos hídricos.

Ainda conforme o estudo do IPCC de 2022, será preciso aumentar os investimentos em mitigar o aquecimento pelo menos cinco vezes no sudeste asiático e nos países em desenvolvimento do Pacífico, sete vezes na África e 12 vezes no Oriente Médio até 2030 para manter o aquecimento global abaixo de 2°C. Entre todos os setores, esse déficit é mais acentuado na agricultura, florestas e outros usos do solo, nos quais os fluxos financeiros recentes estão de 10 a 29 vezes abaixo do necessário para atingir as metas do Acordo de Paris.

Essas mudanças variam conforme cada região e as condições às quais estão expostas, mas o impacto chega a muitos.

Principais fontes

Principais Fontes: Valor; CNN; Revista Galileu/Science Advances; WRI Brasil; IPCC; WWF.
Foto capa: Adobe Stock
Fotos secundárias: Science Advances

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