Como a ciência da nutrição pode ajudar na escolha dos alimentos, melhorar a imunidade e ajudar produtores rurais em sua distribuição.

Há mais de 20 anos, Carla Cotta trabalha com nutrição. Apaixonada e também pós graduada em fitoterapia e plantas medicinais, com muita experiência na prática clínica, ela atua também com controle de qualidade e segurança na alimentação em uma empresa que comercializa alimentos orgânicos.

Um de seus focos de estudo na área de fitoterapia, que foi inclusive tema da sua pós graduação, foi a biodisponibilidade do licopeno (pigmento responsável pela cor vermelha-alaranjada de alguns alimentos, como tomate, mamão, goiaba, melancia…).

Hoje pratica uma nutrição individualizada, que “transforma as pessoas”. Em suas palavras, a nutrição é uma ciência incrível, robusta e pormenorizada. Confira o bate-papo com a nutricionista Carla Cotta.

Que alimentos não podem faltar no cardápio do brasileiro?

Consumir os alimentos de origem “local” ou de fornecedores próximos aos locais de moradia é sempre uma ótima opção, tanto para o estímulo aos agricultores locais quanto para os benefícios do consumo de alimentos com menos aditivos, pesticidas e outros componentes químicos. É importante sempre conhecer a origem do que consumimos e essa tarefa pode ser mais fácil quando consumimos de fornecedores locais.

O brasileiro tem oferta de vários tipos de cereais, feijões e leguminosas em seus estados. Por isso, no prato não podem faltar cereais como arroz e a família das leguminosas que são os feijões. Incluir na metade do prato verduras e legumes, raízes como o aipim presentes em diversos estados, também é importante para compor um prato saudável.

O consumo de frutas regionais, duas frutas no mínimo, como por exemplo as frutas do cerrado, é obrigatório, pois elas fornecem as vitaminas e minerais fundamentais para o nosso corpo. Variar as frutas de acordo com a época também é importantíssimo.

Frutas ou sucos? Crus ou cozidos?

Em relação às opções cruas e cozidas, há vegetais que precisamos cozinhar para obtermos seus benefícios e outros que conferem mais benefícios sendo consumidos crus. Os alimentos alaranjados devem ser consumidos cozidos para obtermos os benefícios do betacaroteno, por exemplo. Alimentos como o brócolis não devem ser cozidos no vapor ou panela por mais de três minutos para garantirmos os seus benefícios. O importante é que possamos fazer um mix consumindo os alimentos como verduras mais cruas e revezando com cozimento inteligente, de forma a ficarem mais ao dente durante o processo de preparo.

O inhame, por exemplo, por conter algumas substâncias tóxicas, deve ser consumido sempre cozido.

Consumir frutas cruas sempre é uma melhor opção do que cozidas ou trituradas, pois muitas vitaminas são perdidas durante o cozimento e outros processos de corte ou no uso de equipamentos como o liquidificador. Assim obtemos as vitaminas, fibras e minerais integralmente ao consumí-las.

Bebidas nas refeições, sim ou não? Não. Quando consumimos bebidas nas refeições, diluímos as enzimas digestivas e pioramos a digestão. Outro ponto é que dependendo das bebidas, se forem chás ou mates ou refrigerantes, temos prejuízos na absorção de minerais e vitaminas, pois alguns componentes dessas bebidas se acoplam a vitaminas e minerais e impedem a adequada absorção de nutrientes fundamentais.

As pessoas entendem o que é a nutrição?

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A nutrição ficou muito na moda há algum tempo. Eu me lembro quando comecei, quando me formei, as pessoas diziam: “você é aquela cozinheira…” E eu respondia, sem desmerecer as cozinheiras que têm um trabalho absurdo, mas eu não sou cozinheira, não. Outros falavam: “Você faz nutricionismo?” e eu falava: “Não, eu faço ciência da nutrição.” Hoje faço questão de reforçar que trabalho com nutrição funcional.

 

O que é nutrição funcional?

É uma nutrição onde a gente tem um olhar sobre o indivíduo como se estivéssemos com um microscópio. Nós vamos olhar até para a célula, para a interação daquele indivíduo com o meio, com o ambiente, com as emoções… é uma interação completa. É como olhar alguém com uma lupa. E assim analisar a forma dele se alimentar, as questões mentais e do ambiente. Como se pudéssemos observar que a forma dele se alimentar estivesse ligada ao ambiente ao qual ele está exposto. Não só na forma como se alimenta mas, obviamente, como ele pode se proteger.

É uma nutrição preventiva, com uma visão mais complexa e completa, levando em conta a questão da exposição de efeitos nocivos futuros. Nós temos exames individualizados para avaliação, por exemplo, de intestinos. Sabemos que a ciência chegou a algumas conclusões. Quase todas as doenças começam e terminam no intestino. Então, nós temos uma abordagem global mas também microscópica daquele indivíduo para entender como nasce o sintoma. Um exemplo: uma pessoa chega e me diz que tem um zumbido no ouvido. Zumbido no ouvido para uma nutrição clássica pode sinalizar uma hipoglicemia. Mas na nutrição funcional, a gente vai olhar mais fundo. E poderá perceber que aquele indivíduo talvez tenha deficiência de magnésio, que também causa zumbido no ouvido. O caráter investigativo e o questionário metabólico são mais aprofundados. Eu avalio se ele foi amamentado, se ele sonha, se o sonho é colorido. Tudo isso é sobre nutrição. Qual a panela que ele come, qual o seu ambiente de trabalho, se está exposto a algum tipo de combustível ou a substâncias químicas nocivas. Como é que é a água que ele consome. Água diz muito sobre nutrição. Eu nunca entendi tanto de água quanto depois que fiz nutrição funcional.

 A alimentação pode melhorar a imunidade?

Através da nossa alimentação, temos uma gama de vitaminas, minerais, antioxidantes importantes e fitoativos que são ferramentas do nosso sistema imunológico. Você precisa ter um soldado bem equipado, dependendo de sua vitalidade bioquímica… imagine que tenha alguma deficiência de vitamina D no meio de uma pandemia? A vitamina D é um hormônio, ela não é apenas um super alimento para dar suporte e capacidade para nosso sistema imunológico. Então ela não pode faltar em seu organismo. Eu ouvi profissionais de saúde dizendo: “Isso aí é como se fosse a cereja do bolo”. Não, não é a cereja do bolo! O sistema imunológico depende sim de vitaminas e minerais, ele precisa de ferramentas. As reações metabólicas dependem de zinco, selênio, depende de diversos minerais e vitaminas como a vitamina D. E não é só sobre vitamina D. É sobre ter um suporte adequado através dessas vitaminas. Depende das pessoas entenderem que não adianta tomar uma gama absurda de miligramas de vitamina C porque não vai absorver. Depende de qual é o melhor  horário de tomar.. a vitamina D tem o melhor metabolismo no horário do sol, no almoço. No finalzinho da manhã. A melhor vitamina D da vida é o sol, mas as pessoas estavam mais confinadas e infelizmente, embora estejamos num país tropical, o brasileiro, pelo menos o que eu atendi, estavam com deficiência de vitamina D, inacreditavelmente na sua maioria. Isso não é a cereja do bolo , isso é ferramenta. Talvez voce precise de um maior quantitativo que sua colega, vitamina não é quantidade igual para todo mundo. É disso que a nutrição funcional fala , da sua avaliação bioquímica, seus marcadores, depende da forma que voce se alimenta, que horário voce toma suas vitaminas, o que eu posso combinar. Por exemplo, se eu posso combinar o fitoativo X com vitamina D ser absorvida precisa de gordura, por isso uma ótima hora de tomar vitamina D é na hora do almoço porque normalmente já temos gordura naquela refeição. A alimentação é um grande capacitador do nosso sistema imunológico.

Quem é Carla Cotta: Nutricionista formada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), fez MBA em Marketing e defende o consumo de “comida de verdade”. Em 2006, fundou a Nutri 7 consultoria em Nutrição Ltda. Seguiu a carreira clínica fazendo especialização em Nutrição Clínica Funcional da VP. É pós-graduada em Fitoterapia e plantas medicinais pela UFRJ. Atua em consultório particular e é personal diet há 15 anos. Realiza trabalhos como palestrante internacional na área de saúde da mulher e gerenciamento de peso realiza consultorias em novas formulações na área de nutracêuticos e nutricosméticos.Considera sua missão “nutrição e consciência”.