O uso de produtos biológicos na agricultura já é uma realidade no Brasil. São inúmeros os microrganismos capazes de controlar pragas ou de viabilizar a utilização de nutrientes do ambiente pelas plantas que são utilizados na nossa produção agrícola.

A microbiologia na agricultura deriva do grande avanço tecnológico e científico e é de extrema importância incentivar as pesquisas para que essa área se desenvolva ainda mais na prática. No que se refere ao aproveitamento de nitrogênio pelas plantas, 80% da área de soja plantada no país, utiliza microrganismos para fixar esse nutriente. Tecnologias como essas promovem ganhos ambientais, redução de custos, aumento de produtividade e ainda facilitam o sequestro do carbono pelo solo, diminuindo seu retorno para a atmosfera. Dessa forma, contribuem também para minimizar problemas ambientais.

Com as pressões atuais, muito se valoriza qualquer avanço tecnológico que contemple a preservação do meio ambiente. E na agricultura, o principal objetivo é produzir de maneira eficiente utilizando tecnologias que contribuem com o alcance das metas globais de desenvolvimento sustentável.

São várias as aplicações da microbiologia na agricultura

Os produtos microbiológicos podem atuar na fertilidade e nutrição das plantas trazendo melhorias nos processos físico-químicos e biológicos do solo, aumentando sua capacidade produtiva e ainda regenerando os sistemas de produção. Esses produtos são conhecidos como biofertilizantes, inoculantes e bioestimulantes.

Os biofertilizantes são responsáveis por ampliar os microrganismos benéficos ao solo, permitindo maior estabilidade e capacidade do solo em sustentar o crescimento das plantas, aumentando a produtividade das culturas. Além disso, eles não são poluentes, o que causa menor impacto ambiental. Quanto aos microrganismos inoculantes, ao se associarem às raízes das plantas, são responsáveis por intensificar o processo da fixação biológica do nitrogênio (FBN) capturado da atmosfera e transformado em forma absorvível pelas plantas. Já os bioestimulantes, são aqueles que atuam diretamente nas plantas, potencializando seus processos fisiológicos, resultando em maior produtividade. Eles atuam no equilíbrio hormonal da planta e na divisão das células vegetais, aumentando sua resistência a condições de déficit hídrico mais elevado, devido ao aumento da capacidade de absorção de água e nutrientes, favorecendo o seu crescimento.

Além de atuarem na fertilidade do solo, microrganismos podem atuar no controle de pragas e doenças. O controle biológico, por definição, fornece um método não químico para o manejo de doenças de plantas usando organismos vivos, como microrganismos. A capacidade de biocontrole de um microrganismo pode resultar da produção de compostos antibióticos, ou enzimas capazes de interferir nas atividades fisiológicas de pragas e doenças ou até mesmo por meio da competição por nichos com patógenos na região das raízes das plantas.

Tempos modernos sugerem tecnologias inovadoras

Um artigo publicado na Frontiers in Sustainable Food Systems em 2021 abordou o uso da microbiologia moderna como uma tecnologia inovadora na nutrição de cultivos. Os biofertilizantes são microrganismos vivos que melhoram a nutrição das plantas, mobilizando ou aumentando a disponibilidade de nutrientes nos solos. Assim, de acordo com o estudo, o aproveitamento de processos que ocorrem naturalmente, como aqueles fornecidos por microrganismos do solo e associados a plantas, apresenta uma estratégia promissora para reduzir a dependência de agroquímicos.

Outra publicação na Microbiological Research aponta que essas inovações abriram um novo caminho para projetar e implementar abordagens intensivas de gerenciamento de microbiomas para maximizar a produtividade agrícola. Além de melhorar a tolerância ao estresse dos agroecossistemas, o que, em troca, criará valor para a crescente população mundial, tanto para a produção quanto para o consumo de alimentos.

Contudo o uso de ferramentas microbiológicas na agricultura deriva do grande avanço tecnológico e científico nesta área e é de extrema importância. Promover treinamento de produtores, consultores e pessoas envolvidas em atividades que usam a microbiologia pode favorecer ainda mais o desenvolvimento e a implementação de práticas de manejo que melhorem a qualidade biológica dos solos, tornando-o um ambiente mais propício ao desenvolvimento de plantas.

Microbiologia a favor do desenvolvimento sustentável

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) destacou em seu último relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2022” que a insegurança alimentar se deteriorou ainda mais em 2021. Os efeitos persistentes da pandemia de COVID-19 e suas consequências continuam a impedir o progresso em direção à realização do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2(ODS 2 – Fome zero e agricultura sustentável) até 2030, que é erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável.

Sendo assim, é fundamental considerar as tecnologias verdes na agricultura, como o uso de agentes microbiológicos. Esses produtos elevam a produtividade agrícola, reduzindo impactos ecossistêmicos na produção de alimentos. O uso de sistemas microbiológicos para melhorar a produção agrícola de maneira ecologicamente correta é amplamente aceito como uma futura tecnologia-chave. Dessa forma, contribuem para a sustentabilidade da agricultura, uma vez que trazem vantagens econômicas, ambientais e sociais.