Muitas das mudanças necessárias para o combate às mudanças climáticas e para sua adaptação estão ao nosso alcance. E saiba que, nesse contexto, a importância do setor alimentar e da agricultura tornou-se cada vez mais evidente nos últimos anos.
O Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontou que apesar dos esforços para reduzir os riscos causados pelo aquecimento global, ele vem causando perturbações perigosas na natureza. Bilhões de pessoas em todo mundo vêm sendo afetadas, principalmente aquelas menos capazes de lidar com esse problema.
Porém, se unirmos esforços na gestão do processo como um todo para a diminuição da emissão de gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera, ainda é possível alcançarmos um cenário seguro para o futuro do clima, com aumento de somente 1,5 °C até o final deste século.
O que fazer para conter esse problema e promover melhores condições para todos? Vamos refletir juntos como direcionar nossas ações para garantir um futuro sustentável e mais saudável para o nosso planeta.
Produção de alimentos, aquecimento global e desenvolvimento sustentável
Vários dos desafios propostos pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) abordam os temas relacionados às questões alimentares e ambientais. Um deles é acabar com a fome, sendo mais especificamente descrito pelo ODS2, fome zero e agricultura sustentável. Também relacionado ao tema em questão está o ODS 13, ação contra a mudança global do clima, já que se adota medidas de redução de emissão de GEE para combater as alterações climáticas e seus impactos.
Por um lado, o incremento da produção agrícola com a utilização de fertilizantes nitrogenados de origem fóssil, pecuária extensiva, desmatamento para abertura de áreas produtivas podem provocar o aumento das emissões de GEE e, consequentemente, o aumento das temperaturas globais. Por outro lado, as alterações climáticas decorrentes do aquecimento global intensificam a disparidade no acesso a alimentos e água potável, e ainda afetam a agricultura, especialmente nos locais onde ela é a principal atividade econômica. É um círculo vicioso, onde todos sofremos as consequências.
A única forma de compatibilizar a produção de alimentos saudáveis para todos com o combate às mudanças climáticas é por meio de uma agricultura sustentável combinada com mudanças na nossa dieta e maneira de consumir.
Agricultura sustentável combinada a um sistema alimentar saudável para combater as mudanças climáticas
Segundo o relatório do IPCC, opções eficazes incluem melhorias de cultivares; sistemas agroflorestais; práticas de sequestro de carbono; princípios e práticas agroecológicas; gestão ecossistêmica na pesca e aquicultura; controle de pragas que promovem a redução da dependência de defensivos químicos; redução da utilização de fertilizantes químicos; assim como estratégias de adaptação que reduzem a perda e o desperdício de alimentos ou apoiam dietas balanceadas.
Várias dessas iniciativas vêm sendo tomadas pela agricultura no nosso país de maneira bem-sucedida. E disso, temos muito que nos orgulhar!
Temos um plano robusto e operante, conhecido como plano da Agropecuária de Baixo Carbono (ABC) que superou as metas quando executado entre 2010 e 2020. Suas ações evitaram a emissão de 170 milhões de toneladas de gás carbônico e beneficiaram 52 milhões de hectares com tecnologias sustentáveis de produção. E é nesse caminho que devemos seguir quando se fala em sequestro de carbono na agricultura. Por isso a continuidade dessa transformação segue no Plano ABC +, que tem como objetivo expandir sua atuação para mais 72 milhões de hectares em 9 anos.
A adoção de sistemas de produção baseados na multiplicação de microrganismos no solo para a redução da necessidade de fertilizantes de origem fóssil é outra prática bem-sucedida da agricultura brasileira. 80% da área de soja plantada no país, utiliza microrganismos para fixar nitrogênio no solo e torná-lo disponível para as plantas. Tecnologias como essas promovem ganhos ambientais, facilitando o sequestro de carbono, reduzindo custos e aumentando a produtividade.
Já quando se fala em perda e desperdício de alimentos (PDA), estima-se que 14% dos alimentos do mundo são perdidos entre a colheita e a comercialização, e cerca de 17% são desperdiçados no varejo e no nível de consumo. A PDA é responsável por 8 a 10% das emissões dos Gases do Efeito Estufa (GEE) no planeta, o que contribui também com um clima instável e eventos climáticos extremos, como secas e inundações. Para vencer esse desafio no Brasil e promover o direito humano à alimentação adequada foi instituída pelo Decreto nº 10.490, de 17 de setembro de 2020 a Rede Brasileira de Bancos de Alimentos (RBBA). A partir daí, programas governamentais, organizações não governamentais (ONGs) como a ONG Banco de Alimentos, entidades e instituições com parcerias públicas e privadas desenvolvem projetos e ações de combate à fome, à insegurança alimentar e à perda e desperdícios de alimentos.
Ainda de acordo com o relatório do IPCC, a cooperação e a tomada de decisão inclusiva com as comunidades locais e os povos indígenas, bem como o reconhecimento dos direitos inerentes desses povos, são essenciais para uma adaptação florestal bem-sucedida o que traz benefícios ambientais, contribuindo também para a nutrição, a saúde e a biodiversidade.
Sendo assim, opções de adaptação eficazes, juntamente com políticas públicas de apoio, aumentam a disponibilidade e a estabilidade de alimentos e reduzem o risco climático para os sistemas alimentares, ao mesmo tempo em que aumentam a sua sustentabilidade.