A cada dia que passa, torna-se mais evidente a importância de nossas ações para melhorar a qualidade de vida das pessoas, respeitando a disponibilidade dos recursos naturais. A maneira como produzimos, consumimos e desperdiçamos alimentos tem um grande impacto no planeta, considerando a segurança alimentar, as mudanças do clima e a preservação do meio ambiente.

O relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) – O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2022 – lançado em julho deste ano, aponta que o agravamento da fome mundial foi acelerado pela pandemia de Covid-19 e pela guerra na Ucrânia, o que aprofundou a crise de alimentos. De acordo com os dados apresentados, a proporção de pessoas afetadas pela fome desde 2015 era próxima de 8% da população global. Com a crise da saúde e com a guerra, o número saltou nos últimos anos e agora já afeta 9,8% das pessoas no mundo. O número de pessoas afetadas pela fome em todo o mundo subiu para 828 milhões em 2021, uma alta de cerca de 46 milhões desde 2020 e 150 milhões em relação a 2019, antes da pandemia.

Essa edição do relatório evidencia que o mundo está se afastando, cada vez mais, de seu objetivo (ODS 2) de acabar com a fome, insegurança alimentar e desnutrição até 2030. Porém, o poder de mudar está em nossas mãos, e devemos refletir muito sobre nossas ações para mudar esse cenário.

A busca por um sistema agroalimentar saudável e sustentável

A fome é definida como “privação do alimento”. Já a insegurança alimentar é quando as pessoas enfrentam incertezas sobre sua capacidade de obter alimentos e são forçadas a reduzir sua qualidade ou quantidade. Uma declaração do Dr. Qu Dongyu, Diretor-Geral da FAO, destacou o Impacto Econômico da Guerra na Insegurança Alimentar.

Dentre as considerações apresentadas, está a atuação da Federação Russa e da Ucrânia no mercado global de alimentos e no fornecimento de fertilizantes, afetando o comércio, preços e meios de subsistência. Dr. Qu Dongyu mencionou que isso continuará a ter impacto na segurança alimentar e nutricional de muitos países nos próximos meses e anos, indicando que o mundo precisa de solidariedade e grande paixão para ajudar primeiro os vulneráveis.

O diretor declarou também que essas crises nos levam a tomar medidas para tornar os sistemas agroalimentares mais eficientes, mais inclusivos, mais resilientes e mais sustentáveis ​​para uma melhor produção, melhor nutrição, melhor qualidade de vida, sem deixar ninguém para trás.
Como forma de ajudar os países mais vulneráveis, que são os mais afetados pela fome e desnutrição, a FAO propôs a criação de um Mecanismo de Financiamento à Importação de Alimentos (FIFF) global. Esse mecanismo ajuda os países a financiarem suas compras, lidando com os crescentes custos de importação.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no contexto do sistema alimentar

Quatro dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são apoiados por meio das iniciativas que promovem um sistema agroalimentar saudável e sustentável. Dentre eles, o ODS 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável, ODS 10 – Redução das Desigualdades, ODS 12 – Consumo e Produção Sustentáveis e ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima.

O ODS 2 pretende acabar com todas as formas de fome e má-nutrição até 2030, de modo a garantir que as pessoas tenham acesso suficiente a alimentos nutritivos. Para isso, precisamos enfrentar as quatro dimensões da segurança alimentar: estabilidade no acesso aos recursos necessários para produção de alimentos; disponibilidade de alimentos suficientes; distribuição de alimentos suficientes para uma dieta saudável e; utilização dos alimentos de forma adequada.

O ODS 10 tem como meta, até 2030, alcançar progressivamente e sustentar o crescimento da renda dos 40% da população mais pobre a uma taxa maior que a média nacional. Visa também implementar o princípio do tratamento especial e diferenciado para países menos desenvolvidos, em conformidade com os acordos da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ambas as metas envolvem sistemas alimentares, nas quais é possível planejar ações inovadoras capazes de transformar esses sistemas.

Também alinhado às metas do ODS 10, o ODS 12 busca alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais, reduzindo desperdícios junto ao Plano Decenal de Programas sobre Produção e Consumo Sustentáveis. O relatório do plano revela que o consumo e produção sustentáveis podem ser facilitadores para uma recuperação global da pandemia, que não deixa ninguém para trás, cumpre com os objetivos de sustentabilidade e nos traz de volta ao caminho para as metas da Agenda 2030.

Já no contexto do ODS 13, que envolve ações contra as mudanças climáticas, um estudo liderado pelo WRI Brasil e pela New Climate Economy revela que o Brasil tem potencial de adoção de uma economia de baixo carbono capaz de contribuir com a redução da pobreza e da desigualdade, cumprindo metas econômicas e setoriais, estimulando o crescimento econômico sustentável.

Nossas escolhas refletem na transformação dos sistemas alimentares

Em uma celebração ao dia mundial da alimentação no último ano, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres mencionou que em sua participação na Cúpula dos Sistemas Alimentares da ONU, os países assumiram compromissos para tornar as dietas saudáveis mais baratas e acessíveis e para tornar os sistemas alimentares mais eficientes, resilientes e sustentáveis em cada etapa. Ele destacou também que todos nós podemos mudar a forma como consumimos alimentos e fazer escolhas mais saudáveis.

Podemos escolher a forma como produzimos, armazenamos, preparamos e consumimos nossos alimentos, evitando assim o desperdício e participando de forma ativa de sistemas alimentares mais sustentáveis. Para nos ajudar ainda mais, a FAO preparou uma lista de ações individuais que contribuem com a redução do desperdício, melhoria da qualidade da nossa dieta e compartilhamento de informações de modo a contribuir com a sociedade em geral. Nossas ações podem ajudar a construir ideias e abrir caminhos para melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas em situação de vulnerabilidade. Consulte as ações recomendadas pela FAO aqui.