Produzir em meio a um deserto, sob temperaturas elevadas e ainda com restrição hídrica pode parecer impossível. Mas o Catar tem investido em tecnologias para superar esse desafio e reduzir a dependência externa de alimentos.
Localizado na península árabe e com uma paisagem que abrange um deserto árido, o Catar é um país muito pequeno, porém considerado um dos mais ricos do mundo. Sua riqueza é devido à exploração de petróleo e gás natural.
Devido às condições desérticas, baixo volume de chuva e altíssimas temperaturas, o país aproveita apenas uma pequena parte do seu território para a agricultura, sendo necessário importar alimentos de outros países do mundo para atender sua demanda interna.
Com incentivo e investimento em tecnologias na agricultura o Catar dribla as condições climáticas adversas para a produção agrícola. E o motivo principal que impulsionou a mudança no setor agrícola do país foi a questão da segurança alimentar.
O Brasil é um dos países que fornece alimentos para o Catar
A demanda doméstica de cereais do Catar é atendida principalmente por meio de importações, sendo o Brasil um dos seus principais fornecedores, além dos Estados Unidos, Índia e Austrália. Os cereais que o Catar importa são trigo, milho, cevada, arroz. Além de produtos como o café e proteína animal.
Porém, alguns fatores como o aumento da adoção de tecnologias agrícolas avançadas e incentivos governamentais estão favorecendo o sistema de abastecimento local, impulsionando o crescimento do mercado no país. Essas iniciativas ajudaram, por exemplo, a empresa local Baladna a cobrir 95% da demanda dos produtos lácteos do país, além de exportar para alguns países.
Se reinventando em meio a um deserto árido
Para atingir a meta de autossuficiência alimentar de 10% para 60% até 2023, o Catar investe em tecnologias avançadas a fim de revolucionar soluções para o desenvolvimento da agricultura em seu clima árido.
Com solo agrícola pobre e falta de água, o desafio de transformar uma área desértica em um oásis verde é muito grande. Mas apesar dessas dificuldades, o país tem feito enormes esforços para produzir alimentos, adotando técnicas de agricultura que viabilizam a produção local.
O setor agrícola do Catar é segmentado pela produção de cereais, frutas, hortaliças, aves, laticínios, ovinos e caprinos. Possui fazendas com produção de plantas de campo aberto e cultivo em estufas.
A produção de alimentos em escala comercial em ambientes não tradicionais tem sido muito aplicada no país. Um desses sistemas não baseados no solo é a aquaponia, um sistema de produção agrícola que reúne aquicultura e hidroponia. A combinação dos dois sistemas de produção de alimentos atende simultaneamente às necessidades das plantas por nutrientes essenciais para o crescimento, ao mesmo tempo em que gerencia os resíduos gerados pela produção de peixes por meio da aquicultura. É uma forma de se produzir alimentos nutritivos de maneira sustentável.
Agricultura vertical hidropônica, por exemplo, vem ganhando muita popularidade entre os agricultores do Catar, onde se reduz o consumo de água e o espaço para o cultivo. Nesse sistema as plantas são cultivadas na água, sem o uso do solo, pois está comprovado que as plantas não precisam de solo desde que os nutrientes essenciais, minerais e o pH adequado sejam mantidos estáveis dentro de uma determinada faixa dentro da água. E ainda, envolvendo muita tecnologia como sistemas automatizados com sensores e plataforma aberta de internet das coisas (IoT) para controlar parâmetros ambientais e de crescimento saudável das plantas com o mínimo de intervenção humana.
Outra técnica muito utilizada no país é a de resfriamento de estufas, capaz de economizar água, energia e reduzir custos operacionais ao longo do ano, além de melhorar o desempenho de cultivos de hortaliças.
As hortaliças dominam o mercado agrícola no Catar
Com tanta tecnologia, o cultivo de hortaliças é muito forte no Catar. As mais cultivadas são tomate, abóbora, berinjela, repolho, pepino, cebola e couve-flor. Em 2018 esses produtos acumularam 48% da área plantada com frutas e legumes.
Durante algumas partes do ano, a produção de hortaliças consegue cobrir cerca de 70% das necessidades do mercado no país, mas a meta é alcançar a autossuficiência nos próximos anos. A ideia é que, até 2023, quase 70% do número de hortaliças consumidas pelos cidadãos cresça em nível local, chegando até quatro vezes a quantidade produzida atualmente.
A busca por segurança alimentar não é de hoje
Em 2008, o país já havia lançado o Programa Nacional de Segurança Alimentar do Catar (QNFSP) junto à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), com estratégias para garantir a segurança alimentar. O QNFSP está alinhado com os princípios da Visão Nacional do Catar 2030 – com foco nas pessoas, na comunidade, na economia e no desenvolvimento ambiental.
Os principais elementos do programa incluem a produção e uso de energia renovável, gestão da água, desenvolvimento agrícola e processamento de alimentos.
Combinando a experiência técnica da FAO com as prioridades de desenvolvimento do Catar, a assistência da FAO no Catar se concentra em três áreas prioritárias para cooperação técnica: Planejamento estratégico e desenvolvimento de políticas; Melhoria da produtividade agrícola e pesqueira e produção de alimentos seguros e nutritivos e; Desenvolvimento, conservação e gestão sustentável dos recursos naturais e proteção ambiental.