Muita gente desconhece a importância dos fertilizantes no nosso dia a dia, mas eles afetam diretamente no preço dos alimentos que consumimos e, tornam ainda mais evidentes problemas relacionados à segurança alimentar.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em seu último relatório – O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2022 –, a guerra na Ucrânia está interrompendo as cadeias de suprimentos e afetando intensamente os preços globais de grãos, fertilizantes e energia, levando à escassez e aumentando ainda mais a inflação dos preços dos alimentos.

Todos nós sofremos as consequências. O Brasil é o 4º maior consumidor mundial de fertilizantes e o maior importador. Logo, 85% das necessidades que temos de fertilizantes é proveniente de outros países, sendo a Rússia um dos nossos principais fornecedores.

A promessa está nos produtos biológicos

Embora a dependência brasileira por fertilizantes seja antiga, ela nunca representou um risco para a produção agrícola nacional. Porém, nos últimos 10 anos, o consumo desses insumos aumentou consideravelmente devido às práticas agrícolas atuais que envolvem otimização de áreas cultivadas para uma produção agrícola mais sustentável. Dentre essas práticas, está a utilização da mesma área para produzir outras culturas em um ano agrícola (segunda safra) e a integração lavoura-pecuária, com o consequente aumento da produtividade. Além disso, o custo do produto também cresceu, colocando em alerta esse propulsor da economia nacional.

Nesse momento de alta vulnerabilidade que estamos vivendo, surge a necessidade de olhar com maior atenção para alternativas que reduzem a necessidade de fertilizantes sintéticos na agricultura, como é o caso dos produtos biológicos. Além de contribuir com a demanda por nutrientes das plantas cultivadas, esses produtos possuem origem mais amigável ao meio ambiente e à saúde animal e humana, um grande passo para a maior sustentabilidade da produção de alimentos e segurança alimentar global.

O que fazem esses produtos?

Os produtos biológicos que atuam na fertilidade e nutrição das plantas trazem melhorias nos processos físico-químicos e biológicos do solo, aumentam sua capacidade produtiva e ainda regeneram os sistemas de produção. Esses produtos são conhecidos como inoculantes, biofertilizantes e bioestimulantes.

Os inoculantes funcionam por meio de associação de microrganismos às raízes das plantas, intensificando o processo de fixação biológica do nitrogênio (FBN) capturado da atmosfera e transformado em forma absorvível pelas plantas. É um processo que pode diminuir ou até mesmo eliminar a necessidade de adubos à base de nitrogênio, reduzindo custos de produção e impactos ambientais, uma vez que o nitrogênio é absorvido do próprio ecossistema. No Brasil, 77% dos fertilizantes nitrogenados são provenientes de outros países. A única cultura que não depende dessa importação é a soja. E isso se dá justamente por conta da FBN, o que gera uma economia de aproximadamente 10 bilhões de dólares em fertilizante nitrogenado, de acordo com um estudo publicado recentemente na Frontiers in Microbiology.

Os biofertilizantes são capazes de ampliar os microrganismos benéficos ao solo, permitindo maior estabilidade e capacidade do solo em sustentar o crescimento das plantas, aumentando a produtividade das culturas. Além disso, os biofertilizantes não são poluentes, o que causa menor impacto ambiental.

Já os bioestimulantes, atuam diretamente nas plantas, potencializando seus processos fisiológicos, resultando em maior produtividade. Eles atuam no equilíbrio hormonal da planta e na divisão das células vegetais, aumentando sua resistência a condições de déficit hídrico mais elevado, devido ao aumento da capacidade de absorção de água e nutrientes, favorecendo o seu crescimento.

Biológicos e sua atuação em um modelo de agricultura de baixo carbono

Em termos ambientais, os produtos biológicos são capazes de estimular a regeneração da terra, agregando vida ao solo, ao gerarem maior equilíbrio de microrganismos benéficos que protegem as raízes das plantas.

Ainda de acordo com a pesquisa da Frontiers in Microbiology, a substituição de fertilizantes químicos por microrganismos fixadores de nitrogênio contribui substancialmente para a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). Assumindo que cada quilograma de fertilizante nitrogenado corresponde a cerca de 10 kg de emissões de CO2eq, um dos GEE. Isso significa que aproximadamente 430 milhões de toneladas de CO2eq seriam liberados anualmente se nenhum fixador biológico de nitrogênio fosse utilizado em plantações de soja no Brasil.

A contribuição dos biológicos na segurança alimentar

Além dos problemas relacionados à guerra da Ucrânia, a FAO também destaca em seu relatório que a insegurança alimentar se deteriorou ainda mais em 2021. Os efeitos persistentes da pandemia de COVID-19 e suas consequências continuam a impedir o progresso em direção à realização do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2(ODS 2) até 2030, que é erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável.

Nesse contexto, é fundamental considerar as tecnologias verdes na agricultura, como o uso de agentes biológicos. Pois além do aspecto ambiental, esses produtos levam à redução da dependência de insumos importados, pois interferem diretamente nos custos que os produtores têm no processo de importação. Com isso, contribuem para a sustentabilidade da agricultura, uma vez que trazem vantagens econômicas, ambientais e sociais.