Você já ouviu falar em Sistemas Agroflorestais? Ou SAFs? Pois saiba que esse tipo de produção tem possibilitado maior oferta de alimentos e vem gerando renda para famílias que antes viviam somente do extrativismo.

Quando falamos em agricultura moderna não podemos deixar de lado a necessidade de conduzi-la, cada vez mais, para sistemas integrados de produção. É uma forma de produzir alimentos com ganhos ambientais e ainda gerar renda para diversas comunidades. 

Um sistema alimentar sustentável pode encontrar no contexto da produção integrada um caminho promissor para o futuro da produção agrícola.  Com isso é possível unir estratégias para evitar o desmatamento, a degradação do solo, a perda de biodiversidade e os problemas relacionados à escassez de água,  tudo isso evitando altos níveis de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e ainda promover atividades que melhoram a qualidade de vida de comunidades tradicionais

Mas o que são SAFs? 

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) define um sistema agroflorestal (SAF), também denominado agrofloresta ou agrossilvicultura, como uma forma de uso da terra, onde árvores ou arbustos são utilizados em conjunto com a agricultura e/ou com animais numa mesma área, podendo ser plantados de uma só vez  ou numa sequência de tempo.

Esses sistemas combinam espécies agrícolas, tanto anuais como perenes, com espécies florestais nativas e frutíferas. Os SAFs se inspiram na natureza e nos ecossistemas de cada região onde há diversidade de plantas e animais. 

Eles buscam equilíbrio fazendo, basicamente, o que uma floresta faria normalmente. A diferença é que são planejados pelo agricultor e direcionados ao melhor aproveitamento da área para seu sustento e para a preservação ambiental.

Os SAFs também estão no contexto da agroecologia, que por sua vez possui abordagens integradas aos 15 dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para a Agenda 2030 pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). 

Os SAFs trazem benefícios para o meio ambiente e para as comunidades tradicionais e extrativistas 

A estratégia de uso do solo pelos SAFs contempla múltiplos benefícios, pois ao mesmo tempo em que produz alimentos e produtos florestais, gera renda no campo, recupera áreas degradadas e restaura florestas e paisagens, o que corresponde a um enorme ganho ambiental. Além do grande potencial para sequestro de carbono (um dos GEE) apresentado por esses sistemas. 

Uma paisagem brasileira que está vivenciando o processo de implementação e disseminação dos SAFs é o Vale do Paraíba Paulista, que conta com apoio do WRI Brasil e da The Nature Conservancy (TNC) Brasil. As organizações estabeleceram estratégias para acelerar a implementação de sistemas agroflorestais e a comercialização dos produtos gerados. Além de expandir os SAFs na região, eles têm a ambição de restaurar até 80 mil hectares hoje degradados.

Outro exemplo de ações para capacitação e implementação de SAFs é um projeto também apoiado pelo WRI Brasil que objetiva a conservação e restauração das florestas em Juruti, na Amazônia paraense, às margens do rio Amazonas. Uma comunidade de agricultores familiares se envolveu em ações para produzir alimentos tradicionais da região, como açaí, mandioca e cupuaçu.

Importância dos sistemas integrados no aumento da produtividade

O sistema agroflorestal é capaz de atingir uma grande demanda que as populações rurais possuem, que é otimizar as áreas que precisam ser recuperadas em termos de produtividade. Um exemplo é o café, que é uma cultura bienal, ou seja, em um ano tem uma safra com alta produtividade e no outro com baixa. Pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) identificaram que o cultivo consorciado de café com macadâmia é 215% mais produtivo e 3,2 vezes mais rentável do que o sistema tradicional. A pesquisa foi publicada na revista Food and Energy Security, com apoio de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP/Botucatu).

Segundo os pesquisadores, o café consorciado com a macadâmia viabiliza duas safras agrícolas todos os anos, complementando a renda do produtor, principalmente naquele ano em que a cultura do café é menos produtiva.  Com esse sistema é possível também alcançar uma complementaridade mais efetiva no uso de recursos ambientais como nutrientes, água e luz.  No plantio consorciado os cafeeiros são beneficiados pela diminuição da velocidade dos ventos em até 60%, já que as nogueiras funcionam como quebra vento. Também, são protegidos do calor excessivo, chegando a produzir 10% a mais que os cafeeiros a pleno sol. Para as nogueiras, os benefícios são ainda maiores, elas se aproveitam do manejo de adubação e de pragas realizados nos cafeeiros.

Outro exemplo de melhoria de produtividade está nos resultados de uma pesquisa da EMBRAPA que comprovam que o plantio de culturas agrícolas, como milho e feijão, associado a espécies florestais tornam as propriedades mais produtivas, além de permitirem aliar produção à conservação da floresta.  Essa diversificação da produção tem possibilitado maior oferta de alimento e renda para produtores rurais da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, localizada no Acre, que antes viviam somente do extrativismo de produtos da floresta, como a castanha-do-brasil.  

Capacitação online sobre sistemas agroflorestais

Você também pode aprender mais sobre sistemas integrados ou SAFs por meio de cursos gratuitos via plataforma e-Campo da EMBRAPA. Um dos cursos oferecidos pela instituição nessa área é “Sistemas agroflorestais para pequenas propriedades do semiárido brasileiro” e o outro “Análise Financeira de Sistemas Agroflorestais”.