Blue Keepers é um projeto que integra a Plataforma de Ação pela Água e Oceano do Pacto Global da ONU Brasil e tem como objetivo principal mobilizar recursos e engajar empresas, governos e sociedade para o combate à poluição do oceano por resíduos sólidos, especialmente plásticos. Para isso, o projeto atua promovendo ações preventivas e corretivas. O Blue Keepers está em total concordância com o ODS 14 (Vida na água) e a Agenda 2030.

Uma das frentes de trabalho da equipe Blue Keepers é também levantar e divulgar dados sobre a poluição no mar. Em pesquisa encomendada pelo Blue Keepers ao Instituto Oceanográfico da USP – Universidade de São Paulo, realizada entre julho de 2021 e abril de 2022, foi constatado que cada brasileiro pode ser responsável por poluir os mares com 16kgs de plástico por ano, o que equivale a 3,44 milhões de toneladas do resíduo. Ou ainda: 1/3 do plástico produzido em todo o Brasil corre o risco de chegar ao oceano todos os anos. O estudo foi apresentado na Conferência dos Oceanos das Nações Unidas de 2022.

Gabriela Otero, geógrafa que coordena o projeto, explica melhor o Blue Keepers nessa entrevista exclusiva para o Entre Solos – Semeando Conexões.

Foto: Arquivo Pessoal

 

Gabriela, explique pra gente o que é o Blue Keepers?

O projeto é uma iniciativa da Plataforma de Ação pela Água e Oceano do Pacto Global da ONU no Brasil, e tem como bastião o ODS 14 – Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 – Vida na Água. Mas tem o foco na Meta 1 do ODS 14, que é evitar a poluição do oceano. Então, nosso objetivo enquanto projeto do Pacto Global é mobilizar, engajar o setor privado em ações e em soluções que previnam o caminho dos resíduos, principalmente os resíduos plásticos pro oceano. 

Desde 2021 as ações para despoluição do mar vêm ocorrendo, é isso mesmo? O que pode relatar de resultados até o momento?

Ele foi criado em abril de 2021, então recentemente completou dois anos, e o primeiro ano dele foi entender que poluição é essa, quais são os pontos, o que a gente chama de hot spots de poluição no território brasileiro e entender como essas fontes de poluição terrestres têm conexão com a poluição que a gente encontra, que é muito conhecida e discutida, no oceano. Tivemos uma parceria com o Instituto Oceanográfico da USP, que fez um amplo estudo, rodou algumas ferramentas internacionais, trouxe dados de população, gestão de resíduos, PIB per cápita, padrões de consumo, enfim, diversas categorias de indicadores sociais, econômicos, ambientais, e chegamos ao primeiro ponto que o Blue Keepers queria trazer como objetivo  que é o diagnóstico da poluição.E aí temos o número de 3.4 milhões de toneladas de resíduos plásticos que têm uma propensão ao escape para o ambiente, então saem do sistema de gestão de resíduos, escapam dele. E aí, uma vez tendo esse número, qual é a probabilidade desse resíduo em qualquer lugar do país de chegar no oceano. E aí foi o estudo da probabilidade e depois do real risco desse resíduo entrar. E aí chegamos na visão de bacias hidrográficas, não importa se o resíduo é gerado no litoral ou no interior, se tem uma bacia hidrográfica intensa, robusta, e tem uma urbanização também muito intensa e robusta, a gente tem esse risco desse resíduo chegar no oceano, também por características de declividade, índice pluviométrico, ventos, e aí entram mais essas categorias ambientais. Então o estudo é bem complexo, e nós chegamos nesses números que pra nós eram importantes para estabelecer a linha base da poluição que a gente quer combater.

De que forma o projeto utiliza os dados da pesquisa?

Uma vez com esses dados, a gente começou uma fase de ação. Porque não importa o número, a gente precisa saber que poluição é essa, que resíduos plásticos são esses. Estamos passando para a fase de campo. O Blue Keepers quer, até 2030, prototipar soluções em pelo menos 100 cidades brasileiras. E nós queremos diminuir em até 30% o tipo de resíduo que vai parar no mar. 

Então essa fase de campo que está acontecendo agora é crucial porque é onde a gente identifica os resíduos. Se é uma escova de dente, uma tomada, um assento de privada, roupa, chinelo… enfim, nós estamos aí já com 12 coletas amostrais e com a identificação, uma triagem de quase 20 mil itens já encontrados, coletados e classificados. 

Os resultados dessa triagem especificamente a gente vai lançar mais para o final do ano, que aí é o nosso próximo produto – ter esse inventário de resíduos no qual as pessoas, as empresas, as prefeituras possam acessar e a partir desses dados atuar, pensar em prevenção. 

Como são feitas as ações, com a ajuda de parceiros, patrocinadores?

A gente fez uma parceria recente com a marca Sprite. Lembrando que as nossas apoiadoras principais da caminhada desde o ano passado são a Braskem, Oceanpact e Coca-Cola Brasil. Elas nos apoiam nessas ações gerais, nos nossos pontos de chegada gerais, mas veio esse pedido da marca Sprite, para fazermos as ativações, esses mutirões de limpeza para retirada imediata dos resíduos do ambiente e mobilizar as pessoas, as populações locais. Então estamos em seis cidades em parceria com a marca Sprite, estamos indo para a sétima cidade, que são Manaus, Fortaleza, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Santos. E estamos indo agora para Brasília.

Quais os resultados alcançados até o momento?

Essa série de mutirões, até agora já estamos no meio do caminho, são 24, 25 no total, e das 12 que nós realizamos já foram retirados do ambiente aproximadamente cinco toneladas de resíduos no total e mais de 1.100 pessoas envolvidas diretamente, fora o alcance dessas ações na mídia, dos familiares dessas pessoas envolvidas etc. 

Em que fase os trabalhos desenvolvidos pelo Blue Keepers estão?

O Blue Keepers tem esse arcabouço científico, o projeto atua tecnicamente com essas coletas amostrais e também com a sociedade civil nesse engajamento da retirada imediata dos resíduos. Esse tipo de dado vai servir pra gente passar para a fase 3, que são as soluções efetivamente. O que a gente vai prototipar uma vez que a gente conheça o resíduo mais problemático de cada localidade. E aí são as cenas dos próximos capítulos, né!