Falar é fácil. Difícil é planejar, executar e sustentar um plano para mitigar e adaptar a produção agrícola na direção de uma economia de baixo carbono. Se você acha que isso não combina com o Brasil, está enganado. Pois, temos um plano robusto e operante, como não se vê em outros países.

O plano da Agropecuária de Baixo Carbono (ABC), executado entre 2010 e 2020, superou as metas. Nos últimos dez anos, as ações evitaram a emissão de 170 milhões de toneladas de gás carbônico e beneficiaram 52 milhões de hectares com tecnologias sustentáveis de produção. De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) – ficamos 46,5% além da meta original.

A origem

 

A proposta do Plano ABC nasceu dos compromissos voluntários de redução de emissão de gases de efeito estufa (GEE) no setor agropecuário, assumidos pelo  Brasil na 15a Conferência das Partes (COP15), que ocorreu em 2009 em Copenhague.

A partir daí, especialistas do setor identificaram quais seriam as tecnologias de produção no campo que mais ajudariam a diminuir as emissões de carbono na atmosfera. Para cada uma delas, estabeleceram metas. E o conjunto de práticas passou a fazer parte do Plano ABC.

 

Como isso nos afeta?

 

Você deve estar se perguntando como o Plano ABC afeta você. A resposta é: se você é um consumidor consciente, deve estar ligado na pegada de carbono da produção dos seus alimentos, das suas roupas, da energia que utiliza e de tudo que precisa para viver.

Então, quando você observar produtos com certificações de carbono neutro como carne, frango vegano, leite e outros alimentos que já estão nos supermercados, pode saber que tem plano ABC aí.

 

No que consiste o Plano ABC?

 

A produção agrícola sustentável valoriza as operações e os insumos que menos emitem CO2 para a atmosfera, que ajudam a sequestrar o gás carbônico, aumentando a retenção do carbono no ambiente, como no solo e nas plantas. Por isso, a agropecuária de baixa emissão de carbono incentiva a adoção de diferentes tecnologias na direção da produção “carbono zero”.

Por exemplo, quando o produtor reúne, no mesmo espaço, a pecuária, o cultivo de árvores para produção de madeira e a lavoura de grãos, empregando rotação de culturas, constrói um sistema de produção integrado. A depender do que está combinando na propriedade, será denominado de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) ou Sistema Agroflorestal (SAFs). Com isso, ele favorece a saúde do solo e promove a ciclagem (a passagem do CO2 do meio ambiente para os organismos vivos e destes de volta para o meio) .e o sequestro do gás carbônico. Diminuindo e até mesmo zerando, as emissões de CO2 na atmosfera.

Além dos sistemas integrados, os cuidados com o solo são essenciais para uma produção agrícola de baixo carbono. Em práticas conservacionistas de solo, como o plantio direto, o cultivo acontece sobre a “palhada” e sem revolvimento do solo. Isso significa que o produtor não vai mexer tanto na terra, deixando-a com as condições físicas e biológicas mais preservadas.  E por que isso é importante? O solo é quase que uma comunidade viva e para manter a sua “saúde” é preciso que ele tenha umidade e matéria orgânica para alimentar os diversos organismos que ali vivem. Para isso, inclusive, a fixação biológica do nitrogênio (FBN) contribui de modo expressivo, o que coloca essa prática no escopo de baixo carbono.

Quando um solo é abandonado ou pouco cuidado, precisa ser recuperado, para que possa voltar a reter carbono. Não por acaso, a recuperação de solos degradados é reconhecida como uma estratégia de baixo carbono do plano.

Na equação do plano ABC é contemplado, inclusive, o tratamento dos dejetos de animais empregando tecnologias que possibilitem produção de compostos orgânicos que favorecem o meio ambiente.

Finalmente, quando falamos de práticas contra as mudanças climáticas, o reflorestamento não pode deixar de ser citado. Com mais plantas, maior é a captura de CO2 do ar e maior é a retenção de carbono no ecossistema.

Desta forma, os dez anos de Plano ABC evitaram a emissão de 170 milhões de toneladas de gás carbônico e beneficiaram 52 milhões de hectares, modificando a forma de produção de pequenos e grandes produtores brasileiros.

A continuidade dessa transformação segue no Plano ABC +, que pretende expandir sua atuação para mais 72 milhões de hectares em 9 anos.

Rodrigo Lima:O plano ABC gerou excelentes resultados e tem ajudado o Brasil no seu compromisso com o acordo de Paris. Tratado que tem como objetivo estabilizar o aquecimento global em 1,5 °C.”

 

Plano ABC+

 

Em time que está ganhando, não se mexe. Aliás, com ele se pode ir mais longe. Como o Brasil superou as metas assumidas na primeira década do Plano ABC, mostrou que pode fazer mais daqui para frente.

Por isso, a nova versão Plano ABC+ pretende cortar a emissão de carbono em 1,1 bilhão de toneladas até 2030. Isso representa um aumento de sete vezes no valor definido no plano original.

Rodrigo Lima:O plano ABC + é o grande case da agropecuária brasileira e tem tudo para ser algo muito positivo ao país. A meta de mitigar 1,1 bilhão de toneladas de carbono até 2030 é bastante ousada, mas o Brasil já se mostrou capaz de alcançá-la”

 

Plano de Ações

 

O novo plano traz uma abordagem integrada das áreas produtivas, poupando o máximo possível de terra e cumprindo o Código Florestal, trabalhando pela manutenção da saúde do solo e conservação de água e da biodiversidade.

Além da redução das emissões de carbono para a atmosfera, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), essa abordagem integrada melhora a geração de renda e qualidade de vida dos produtores rurais por meio dos serviços ambientais gerados pelos ecossistemas durante a produção agropecuária.

O Plano ABC+ reúne as práticas do plano anterior e incorpora novas estratégias como a maior adoção de bioinsumos – uma classe de produtos bastante ampla e que abrange, os produtos de controle biológico, inoculantes e biofertilizantes. Os sistemas de irrigação também passaram a fazer parte do programa, como forma de economizar água no campo.

Diante de um plano, ainda mais ousado, você pode se preparar para encontrar, mais e mais, produtos com selo “carbono neutro” ou “agricultura de baixo carbono” no supermercado.