Não há dúvidas que o cacaueiro é uma planta de valor para o mundo todo, pois a partir do seu fruto conseguimos obter o delicioso chocolate.
Esse doce alimento, que é apreciado por tantas pessoas no mundo, possui especial importância para o desenvolvimento do nosso país, principalmente na região sul da Bahia, com destaque ainda maior para as cidades de Ilhéus e Itabuna.
No dia 26 de março é comemorado o Dia do Cacau, uma data instituída para discutir e encontrar soluções para os cacaueiros do Espírito Santo e da Bahia. E, para os chocólatras de plantão, saiba que nessa data também se comemora o Dia do Chocolate, podendo ser transformada em uma festividade cheia de sabores e guloseimas.
O cacau e suas peculiaridades
Originário da Região Amazônica, o cacau vem sendo cultivado, desde o século XVII, como um produto agrícola. A implantação de áreas cultivadas teve auxílio do melhoramento genético e produção de mudas. Passou a ser cultivado no sul da Bahia em meados do século XVIII, onde se expandiu.
O Brasil, que já chegou a ser o segundo maior produtor mundial de cacau, sofreu um declínio devido a uma doença conhecida como vassoura-de-bruxa, causada pelo fungo Moniliophtora perniciosa. A praga apareceu na região de Ilhéus-Itabuna em 1989 e se alastrou afetando os frutos, os brotos e as flores dos cacaueiros. A produção brasileira, que era de 320 mil toneladas por ano, despencou para 190 mil toneladas em 1991. Porém, após mais de 20 anos excluída do mercado mundial, a Bahia pôde retomar a exportação do produto. Muitos esforços têm sido feitos para o combate à vassoura-de-bruxa, especialmente na área de melhoramento genético, em busca de novas variedades de cacau resistentes à praga.
Atualmente, o Pará (região norte), é o maior produtor nacional, com mais da metade do rendimento total do país, sendo que 70% do cultivo é feito em áreas degradadas, majoritariamente por agricultores familiares e em sistemas agroflorestais.
A planta pode atingir de 5 a 8 m de altura, com 4 a 6 m de diâmetro de copa. Dependendo das condições ambientais, essas dimensões podem ser diferentes. Por exemplo, quando o cultivo é feito a pleno sol, sua altura pode ser reduzida pelo manejo. Mas pode alcançar até 20 m em meio à floresta, devido à competição por luz com outras espécies florestais.
Uma condição importante para o sucesso da produção do cacau é a presença de polinizadores, sendo que a mosca do gênero Forcipomya é o seu principal agente de polinização. Quando bem sincronizada a época de floração com o período de maior população dessas moscas, maior o sucesso na produção de frutos do cacaueiro.
E daí vem o chocolate…
O chocolate é obtido a partir das amêndoas do cacau, mas a polpa mucilaginosa que recobre a amêndoa também pode ser utilizada para a fabricação de geleia, vinho, licor, vinagre e suco. O processo de produção do chocolate é feito a partir da moagem das amêndoas secas após um período de fermentação.
Os chocolates do tipo amargo, ou seja, aqueles que possuem altas concentrações de cacau, baixo teor de açúcar e pouco leite, são fontes magnésio, cobre, ferro e manganês. Também possui propriedades antioxidantes, que ajudam a acelerar o metabolismo e ainda proporcionam uma sensação de bem-estar.
Mas, dentre tantos benefícios para a nossa saúde, sua importância para o nosso país vai muito além do consumo. O cacau é fonte de renda para muitas famílias de comunidades tradicionais e suas formas de cultivo ajudam a proteger nossas matas.
Conheça os sistemas de produção do cacau brasileiro
Há basicamente três sistemas de produção do cacau: o extrativista, o sombreado e a pleno sol. O sistema extrativista é caracterizado por plantas dispersas na floresta utilizado por comunidades locais, que retiram os frutos de plantas que crescem em meios às matas. O sombreado tem como base o uso de sombreamento permanente com controle de entrada de luz solar. No decorrer dos anos, esses sistemas se diversificaram com mais ou menos espécies de plantas nativas ou exóticas, podendo ser ou não de interesse econômico. Atualmente, os sistemas sombreados conhecidos são consorciados, policultivos e Sistemas Agroflorestais (SAFs) do tipo cabruca.
Os SAFs são sistemas integrados de produção onde se cultiva espécies florestais, frutíferas e alimentares, gerando diversos produtos como frutas, flores, cascas, óleos, sementes ou amêndoas, cipós e outros alimentos além do cacau. Já no sistema a pleno sol a produção de cacau é realizada sem utilização de sombreamento definitivo, com implantação de um sombreamento provisório para o estabelecimento das mudas na lavoura, por tempo determinado. Nesse sistema, são necessárias mudas tolerantes a doenças, uso de irrigação a depender da quantidade de chuva e adubos químicos e orgânicos para a nutrição das plantas.
Importância social e ambiental dos sistemas de produção
O cacau é considerado uma cultura importante do ponto de vista social, principalmente para a agricultura familiar que produz em harmonia com a conservação da biodiversidade. O seu cultivo tem representado uma alternativa às atividades de pecuária bovina que acelerou o processo de desmatamento nas últimas décadas na Floresta Amazônica brasileira, especialmente no Alto Xingu, estado do Pará.
Já na Bahia, o Consórcio Cacau Bahia Especial (CCBE) é um grupo de produtores de cacau especial do Sul do estado que tem como objetivo enfrentar os novos desafios da cacauicultura, buscando estratégias e soluções definidas para melhorar a produção e o retorno financeiro do cacau produzido na região. O grupo valoriza as amêndoas de qualidade, conservação ambiental e vida digna de trabalhadores rurais. Para fortalecimento da cadeia a região recebeu em 2017 o Centro de Inovação do Cacau (CIC), bastante determinante na melhora do beneficiamento do cacau.
Vamos experimentar um chocolate brasileiro delicioso e incentivar a sociobiodiversidade?
Devido à sua inter-relação entre a diversidade biológica e a diversidade de sistemas socioculturais, o cacau também é considerado um dos produtos da sociobiodiversidade. Para conhecer melhor sobre esses produtos você pode acessar o “Catálogo de Produtos da Sociobiodiversidade do Brasil”, uma publicação feita pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) com o objetivo de dar maior visibilidade para esses produtos e reforçar sua importância para populações tradicionais de unidades de conservação no país. Nessa classificação, o cacau também está entre os 17 produtos extrativistas beneficiados pelo programa de preço mínimo de produtos da sociobiodiversidade (PGPMbio).