É no Cerrado que se concentra boa parte do abastecimento hídrico do Brasil. Esse bioma é conhecido como “berço das águas brasileiras”, abrigando nascentes de importantes bacias hidrográficas do país e o segundo maior reservatório subterrâneo de água do mundo, que são os aquíferos Guarani e Urucuia. 

Sabemos que a água é indispensável para muitas atividades do nosso dia a dia, assim como para a produção agrícola e para a geração de energia elétrica. Muitas vezes esquecemos disso, mas a maior parte da eletricidade produzida no nosso país provém das águas dos rios que movem as usinas hidrelétricas. Na agricultura o uso da água é destinado principalmente para irrigação, mas também para rebanhos bovinos e psicultura.  

Tamanha é a importância desse recurso que todos os anos, desde 1993, no dia 22 de março é comemorado o Dia Mundial da Água, uma data para conscientizar e inspirar ações no enfrentamento da crise global de água e saneamento. É uma celebração coordenada pela ONU Água, cujo tema anual está alinhado com o lançamento do Relatório Mundial da ONU sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos. Contudo, queremos destacar a importância das águas do Cerrado para a agricultura e a biodiversidade do nosso país. 

As nascentes do Cerrado abastecem grandes bacias hidrográficas

Além da sua relevância ecológica, por abrigar grande número de espécies animais e vegetais, o Cerrado possui várias nascentes de importantes rios brasileiros que abastecem grandes bacias hidrográficas do país. Essas nascentes auxiliam no abastecimento de seis das oito principais bacias hidrográficas brasileiras, a bacia Amazônica, do Tocantins, Atlântico Norte, Nordeste e São Francisco. 

As águas que saem da região de Planaltina, extremo nordeste do Distrito Federal, auxiliam na formação tanto da Bacia do Tocantins-Araguaia quanto da Bacia Platina, que nasce no Brasil e banha o Paraguai, Uruguai e a Argentina.

Assim, devemos considerar a conservação do Cerrado fundamental para a manutenção de suas bacias hidrográficas, já que elas contribuem não só para abastecimento da sua região, mas sim de todo o país e do continente sul-americano. 

O Cerrado pode sofrer escassez hídrica até 2050

Um estudo publicado recentemente na Sustainability indica diminuição de água no Cerrado e escassez hídrica até 2050. Os pesquisadores estimaram entre 1985 e 2018 uma redução média de 8,7% e 6,7% na vazão devido ao desmatamento e às mudanças climáticas, respectivamente.

A maioria das alterações observadas deveu-se a mudanças no uso e cobertura da terra e ocorreu nas últimas décadas. As mudanças climáticas e de uso e cobertura da terra combinadas foram responsáveis por uma redução total da água superficial de 19.718 m³/s nas bacias hidrográficas do Cerrado. 

O estudo prevê uma redução total de água de 23.653 m³/s até 2050, equivalente a uma redução de 33,9% da vazão dos rios na região estudada. Isso poderá afetar fortemente a agricultura, a produção de energia elétrica, a biodiversidade e o abastecimento de água, especialmente durante as estações secas naquela região.

A conservação dessas águas recebe apoio de práticas e iniciativas

Segundo o Instituto Federal de Brasília (IFB), entre as técnicas com maior potencial de conservação estão as Agroflorestas, que consorciam a produção agropecuária com o cultivo de árvores, garantindo assim um menor impacto ambiental sobre os corpos hídricos. 

Também é realizada a produção de mudas nativas e plantios de restauração de áreas degradadas nas margens dos córregos dentro do IFB Campus Planaltina e em propriedades rurais da região, inclusive com a ajuda de ciclistas que frequentam o espaço do campus para a prática do mountain bike, e que são grandes parceiros nesse processo, entre eles a Associação SportTriBsb, da região.

Outro trabalho interessante do IFB é a publicação do livro “Parque Colégio Agrícola de Brasília: uma abordagem transdisciplinar para o ensino, pesquisa e extensão“. A obra aborda temas diversos, como fauna, flora, solos, recursos hídricos, utilizando linguagem acessível e incentiva a reflexão sobre a relação do Parque com as comunidades de seu entorno, assim como os serviços ecossistêmicos prestados pelo Parque e como sua conservação gera benefícios para toda a coletividade.