Os riscos decorrentes das mudanças climáticas deixaram de ser previsões para o futuro, e se tornaram acontecimentos que estamos presenciando ano após ano. Em 2021, como se não bastasse a pandemia da Covid-19, o ano tem sido marcado por eventos climáticos extremos. Seja no Brasil ou em outras regiões do mundo, as notícias sobre ondas intensas de frio ou calor, queimadas, enchentes e outros desastres estão cada vez mais frequentes.

Em termos socioeconômicos, as alterações climáticas intensificam a disparidade no acesso a alimentos e água potável, além de afetarem a agricultura, especialmente nos locais onde ela é a principal atividade econômica. Sob o aspecto ambiental, as oscilações no clima também têm o potencial de prejudicar a flora e a fauna, atingindo expressivamente as áreas de megabiodiversidade do planeta. Por isso, ainda que o problema seja global, as mudanças climáticas impactam as regiões de formas diferentes. 

Nossa forma de viver impacta

Cientistas do mundo inteiro relacionam as mudanças climáticas ao aquecimento global. Segundo o Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (sigla em inglês: IPCC), painel das Organização das Nações Unidas (ONU) – o planeta está 1,1°C mais quente em relação aos níveis pré-industriais.

De acordo com o IPCC, a atividade humana é a principal responsável pelo aquecimento global, causado pelo aumento na emissão de gases de efeito estufa (GEE), especialmente CO2. O uso de combustíveis fósseis (derivados de petróleo, carvão mineral e gás natural), atividades industriais e agropecuárias, desmatamento e o descarte de lixo sólido estão entre as principais práticas que resultam em maior emissão dos gases do efeito estufa.

Expansão urbana elevou temperaturas da região metropolitana de São Paulo 

E será que as mudanças no clima já impactaram a sua cidade? Um estudo do Instituto Escolhas aponta que entre 1985 e 2019 a temperatura média da cidade de São Paulo aumentou 1°C, e tem tendência de se elevar mais 0,6°C até 2030.  Para quem acredita que esse valor seja pequeno, reconsidere. A publicação reúne análises que indicam que na metrópole paulista, para cada grau adicional na temperatura houve um aumento de mais de 3,26% de mortes de pessoas por causas ligadas ao coração e ao aparelho respiratório. 

De acordo com o estudo, o impacto sobre o clima da metrópole paulista foi causado pela diminuição das áreas que eram ocupadas pelas florestas e agricultura e o aumento da urbanização. Afinal, são as áreas verdes que asseguram a manutenção da temperatura, ao resfriar o ambiente e absorver o calor. 

A boa notícia é que o estudo revela que a preservação das áreas de florestas existentes e a ampliação das áreas de produção agrícola sustentável, podem ajudar a frear o fenômeno do aumento de temperatura, reduzindo-a em 0,2°C em relação à de 2019.

Agricultura sustentável reduz aquecimento global  

A agricultura sustentável é uma aliada na redução do aquecimento global. Com ela, os cuidados de preservação do solo valem ouro, pois a terra saudável, além de sequestrar carbono, é essencial para o desenvolvimento das plantas. À medida que as plantas crescem, capturam CO2 da atmosfera. Por isso, a conservação dos solos é vista como muito importante para a ONU e está ligada aos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), especialmente ao ODS13 (Ação contra a mudança global do clima). 

Para promover esse ciclo virtuoso na agricultura, os produtores adotam práticas de conservação de solo, como o plantio direto, rotação de culturas, cobertura verde e integração de lavouras com florestas.  Dessa forma, o cultivo de plantas, especialmente quando integrado às áreas de preservação ou em sistemas agroflorestais sequestra carbono.  

Mudanças climáticas afetam a produção agrícola 

Ao mesmo tempo em que a agricultura pode promover descarbonização, ajudando a mitigar as mudanças climáticas, é fortemente afetada pelas oscilações do clima. Basta acompanhar o ciclo das plantas e vislumbrar os possíveis impactos. 

As pesquisas indicam que o aumento de temperatura pode inviabilizar o cultivo de grãos em diversas regiões do Brasil.  Segundo estudo da Embrapa o aumento de 3° C até 2050 teria como impacto a redução de até 50% da produção agrícola no Brasil.

Você percebe o tamanho do problema? Se a produção de alimentos for reduzida pela metade, além de aumento de custos, elevaremos a desigualdade de acesso aos alimentos e intensificaremos os índices da fome. E o que estamos fazendo diante de uma previsão dessas?

Ação contra a mudança global do clima

Para combater as mudanças climáticas é preciso promover o desenvolvimento e a difusão de tecnologias e práticas ambientalmente sustentáveis. Nesse quesito, a agricultura tem muito a contribuir para alcançarmos o ODS13 (Ação contra a mudança global do clima).

O investimento em soluções que resultam em maior resiliência dos sistemas agrícolas é essencial e já é uma realidade do Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), criado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Plantas tolerantes à seca podem ser cultivadas em um ambiente de estresse hídrico. Sistemas de irrigação modernos, técnicas para melhorar a infiltração da água da chuva, sistemas integrados de cultivo e o manejo conservacionista do solo reduzem o CO2 da atmosfera, promovem alta produtividade, levando à produção de alimentos de forma sustentável.

Ondas intensas de frio ou calor, queimadas, enchentes e outros desastres chamados de naturais nos afetam diretamente. O que comemos, o ar que respiramos, a nossa saúde, a sobreviência dos animais, das plantas, tudo está ameaçado.