A conservação da água é responsabilidade de todos. Descubra como a agricultura vem trabalhando por essa causa.

Destacada em dois dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)vida na água e água potável e saneamento – a água é um recurso natural de valor inestimável, essencial para a vida na Terra e necessária para a produção de alimentos. 

No entanto, quando ouvimos dizer que a agricultura é responsável por quase 70% do consumo de água do planeta, é natural ficarmos preocupados. 

Mas, não faltam pesquisas e soluções voltadas à conservação da água na produção agrícola. Uma área de investigação que não cessa, incorpora ciência, inovação, conhecimento tradicional e muita colaboração que se traduz em práticas no campo.  

O Guia de melhores práticas pecuárias da planície pantaneira é um exemplo de material elaborado por especialistas para orientar produtores rurais em como conciliar a produção com a manutenção do ritmo, amplitude e duração das áreas úmidas do Pantanal – principal fonte de água daquela região. A publicação, lançada em julho de 2021 é uma iniciativa da WWF-Brasil, Embrapa Pantanal e Wetlands International.

O que temos de água disponível?

A precipitação, ou seja, água das chuvas que cai sobre a terra é de quase 110.000 km3 por ano. Cerca de 56% desse volume é evapotranspirada por florestas e paisagens naturais e 5% pela agricultura que não é irrigada. Os 39% restantes ou 43.000 km3 por ano são escoados pela superfície, alimentando rios e lagos ou infiltrados no solo em profundidade, o que acaba recompondo aquíferos. Estes são chamados de recursos renováveis ​​de água doce. 

Neidiqueli Silveira, Pesquisadora do Instituto Agronômico (IAC) de Campinas: “É importante considerar que boa parte da água utilizada no campo, retorna para a natureza. O que as plantas não consomem volta para o ambiente através da evaporação ou penetração no solo. E a água que chega no solo recompõe o lençol freático”.

Toda água empregada no campo precisa de autorização e é controlada em volume

Independentemente se a água vai para o campo ou para cidade, a fonte será a mesma: os lençóis freáticos, aquíferos, rios e lagos. São os cursos d’água e as chuva os responsáveis por abastecer os reservatórios aquáticos.

A chuva é uma das principais fontes de água para a agricultura e muitos produtores dependem somente dela para o sucesso de sua produção. Quando não proveniente da chuva, a água utilizada na agricultura é retirada de rios e aquíferos. No entanto, o uso da água no campo precisa ser autorizado e é controlado em volume. Além de várias legislações estaduais e municipais, a gestão dos recursos hídricos está vinculada a uma lei específica no Brasil, conhecida como Lei das Águas, Lei no 9.433/97, que estabelece a Política Nacional de Recursos Hídricos.

Não existe uso de água sem autorização. Para retirá-la em grandes quantidades dos rios, nascentes e até para a abertura de poços é necessário obter a chamada outorga de direito de uso.  Essa permissão é necessária para qualquer atividade humana que possa provocar alterações nas condições naturais das águas, tanto em quantidade como na qualidade, como abastecimento, geração de energia e irrigação, entre outros. Assim, é possível controlar a quantidade de água que é retirada dos mananciais e do lençol freático e garantir o uso responsável desse recurso.  

E você já ouviu falar em agricultores que “produzem água”? Esse é um programa da Agência Nacional de Águas (ANA) e também apoiado pela WWF-Brasil, conheça o projeto aqui.

De olhos bem abertos para os riscos às comunidades do entorno 

A produção agrícola pode afetar negativamente a qualidade da água, como foi visto na região do Alto Uruguai, RS. Uma pesquisa identificou o acúmulo de metais pesados e resíduos de práticas agrícolas afetando a saúde de caranguejos de água doce, naquela região. O que serve de alerta para a qualidade da água que abastece as comunidades locais.

Por isso, dentro da agricultura, é importante adotar medidas que minimizem os impactos. A base é o treinamento contínuo de agricultores para adoção de boas práticas agrícolas e educação ambiental.

Fiscalização também é necessária

A função de fiscalizar como a água é utilizada cabe aos órgãos ambientais dos estados e da União. A ANA é responsável pela análise técnica para a emissão da outorga de direito de uso da água em corpos hídricos de domínio da União (lagos, rios e outros cursos de água que passam por mais de um estado ou que sirvam de com outros países ou estados). Para os corpos hídricos de domínio dos Estados, a solicitação de outorga deve ser feita junto ao órgão gestor estadual de recursos hídricos.

Também cabe à agência fiscalizar os usos de recursos hídricos nos corpos d’água de domínio da União e supervisionar as ações voltadas ao cumprimento da legislação federal sobre o tema.  A ANA ainda realiza a análise técnica das solicitações do Certificado de Sustentabilidade de Obras Hídricas (CERTOH) e a implementação e o gerenciamento do Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos (CNARH).

Na agricultura, o uso da água vem sendo otimizado 

Nos primórdios da agricultura, em regiões com clima favorável, as lavouras dependiam apenas da chuva. Mas o homem logo percebeu que mesmo nos lugares secos que tivessem um rio próximo, era possível levar a água até os cultivos. Assim nasceram os primeiros sistemas de irrigação, que permitiram que antigas civilizações como as do Egito e Mesopotâmia prosperassem. 

Nos últimos 30 anos, a modernização da agricultura fez da captação e utilização de recursos hídricos elementos chave para a expansão sustentável dos cultivos e da produtividade. 

Um dos sistemas de irrigação mais econômicos é o de gotejamento. Com esse sistema, a água é liberada em pequenas gotas ao pé da planta, diretamente sobre o solo e isso chega a reduzir em 50% o consumo de água, viabilizando a produção de diversas culturas, como hortaliças e frutíferas no Brasil e no mundo. 

Eusímio Fraga, Professor e pesquisador da Universidade Federal de Uberlândia:A agricultura irrigada é uma ferramenta estratégica para garantir ou aumentar a produção nos lugares onde falta chuva. Uma solução adotada pelo homem desde a antiguidade. Hoje, a agricultura irrigada responde por 40% do total de alimentos produzidos no mundo. Com ela, é possível aumentar a produtividade em até 3 vezes.” 

O gotejamento economiza energia e água, pois repõe somente o que é necessário para que a planta atinja seu máximo potencial de produção, evitando perdas no solo, tanto em profundidade como por escoamento superficial. 

Além disso, com a instalação de sensores de umidade e utilização de imagens de satélite, os produtores podem avaliar o melhor momento para irrigar suas lavouras, evitando o desperdício. 

Principais fontes:

ANA – Agência Nacional das Águas, Outorga de direito de uso de recursos hídricos. Cadernos de capacitação em recursos hídricos, 2011.

Fortes, A. C. C. et al., A vigilância da qualidade da água e o papel da informação na garantia do acesso. Saúde em debate, 2020.

Malhotra, S. K. Increasing water use efficiency in agriculture sector with major emphasis on horticulture. Proceedings IV World Aqua Congress, 2010.

ONU. População mundial deve ter mais 2 bilhões de pessoas nos próximos 30 anos. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2019/06/1676601. Acesso em: 18/02/2021.

Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2021 (World Water Development Report – WWDR).
Disponível em <
https://materiais.pactoglobal.org.br/valor-da-agua-fatos-e-dados>
Versão original em inglês <
http://www.unesco.org/reports/wwdr/2021/en/download-the-report >