A história com biocombustíveis no Brasil é bastante antiga. Nós já utilizamos o etanol misturado na gasolina ou diretamente nos carros há mais de 30 anos, por meio de ações motivadas principalmente pela súbita elevação dos preços do petróleo na década de 70. Hoje, podemos considerar que o Brasil é o país com a maior experiência no setor de biocombustíveis do mundo.
Denominamos os biocombustíveis como aqueles combustíveis derivados de biomassa, como cana-de-açúcar, cereais, oleaginosas, biomassa florestal (lenha, carvão vegetal, resíduos florestais etc.) e outras fontes de matéria orgânica. Eles são considerados grandes aliados do meio ambiente, pois representam uma alternativa de energia limpa e renovável, já que são produzidos a partir de biomassa de culturas agrícolas e resíduos animais.
Os biocombustíveis mais conhecidos e utilizados são o etanol (álcool) e o biodiesel, que podem ser aproveitados puros ou em adição a combustível convencional. Quando comparados aos combustíveis fósseis, como o diesel e a gasolina, são mais limpos, pois contribuem para a redução das emissões de gases de efeito estufa e renováveis.
Alternativa de ação contra mudanças climáticas
As mudanças climáticas têm colocado em debate a necessidade de ajuste na matriz energética global. Em 2015, 197 países assinaram o acordo de Paris, se comprometendo a conduzir medidas de redução de emissões de carbono, um dos Gases do Efeito Estufa (GEE), para frear o aquecimento global. A situação está tão crítica que, durante a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas, a COP26, vários países se comprometeram a zerar o uso de carvão até 2040.
Alinhados com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 13 (ODS 13 – Ação contra a Mudança Global do Clima), que visa adotar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos, os biocombustíveis emitem menor quantidade de GEE e são produzidos a partir de fontes renováveis como a biomassa. Além disso, esse tipo de combustível é biodegradável, atóxico e praticamente livre de enxofre e compostos aromáticos, sendo considerado um produto ecológico, alinhando-se também com o ODS 7 – Energia Limpa e Acessível, tendo como uma das suas metas aumentar a participação de energias renováveis na matriz energética global até 2030.
Uma grande contribuição do Brasil nesse setor é o RenovaBio, um programa de descarbonização lançado pelo governo federal em 2016, que reconhece o papel dos biocombustíveis na matriz energética brasileira. O programa contribui com a segurança energética do país e com a mitigação de emissões GEE no setor de combustíveis.
A produção de etanol a partir do milho no Brasil cresce a cada ano
No Brasil, o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar já é bastante conhecido pela população. Mas além da cana, o etanol pode ser originado também a partir do milho, uma matéria-prima que vem ganhando espaço nos últimos anos. Segundo a União Nacional da Bioenergia (UDOP), a produção do etanol a partir do grão teve um aumento de 34,33% em relação à safra 2020/2021.
Sendo assim, as perspectivas para a produção de etanol a partir do milho no Brasil são as melhores possíveis. De acordo com a UDOP, o produto corresponde a 13% do total produzido no país, sendo que, há dois anos, sua participação não passava de 6%. Até 2030, a previsão do setor é atingir os 20%, produzindo cerca de 10 bilhões de litros por safra.
Quem protagoniza a produção de biodiesel é a soja
Além do biocombustível à base de etanol, tem o biodiesel, que é obtido principalmente a partir da soja. A introdução do biodiesel no mercado de combustíveis brasileiro é relativamente recente, tendo sido regulamentada pela Lei 11.097/2005, criando a obrigatoriedade da mistura do biodiesel ao diesel.
De acordo com a UDOP, a produção anual de biodiesel do Brasil deve aumentar nos próximos anos, pois considera a retomada do cronograma de misturas obrigatórias previstas na legislação. A projeção considera uma mistura de 15% de biodiesel ao diesel a partir de março de 2023, sendo que, atualmente, essa proporção na mistura é de 10%. Segundo a UDOP, esse mandato desde 1º de março deste ano deveria ser de 14%, pela Resolução 16/2018 do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Porém, no final de 2021, o conselho reviu a meta, alegando que a medida ajudaria a conter o avanço dos preços do combustível nas bombas.
Além da soja, outras matérias-primas como sebo animal, óleo de milho e palma podem ser utilizadas para a produção de biodiesel.