A maior parte das áreas em regeneração da Amazônia está em locais onde o plantio de grãos não é praticável.

O mundo está preocupado com a preservação da Amazônia, principalmente pensando no risco de ter que parar de plantar, de produzir alimentos nas terras férteis desse bioma. A boa notícia é que a maior parte das áreas que estão em regeneração na Amazônia não são propícias para o cultivo agrícola. Com isso, a recuperação das  florestas segue naturalmente sem competir  com a produção de grãos.

Segundo uma pesquisa inédita realizada pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), é possível recuperar a floresta em larga escala e com baixo custo, sem prejudicar a agricultura da região. Como? Agricultores da região podem aproveitar essas áreas para adaptar suas propriedades às leis ambientais, obter novas fontes de renda e ainda gerar benefícios para o clima e para a economia do país.

Benefícios para quem cumpre as leis ambientais

A pesquisa do Imazon também constatou que 36% das áreas em regeneração na Amazônia, que não são adequadas para a agricultura, estão em territórios privados ou assentamentos.  Com isso, os proprietários das terras e agricultores familiares podem adequar essas áreas à legislação ambiental, que exige que parte da propriedade seja preservada com vegetação nativa. Esse aproveitamento de áreas que não são lucrativas com o plantio, além de ajudar no cumprimento da lei, impede prejuízos com multas e ajuda os produtores na obtenção de financiamentos, tendo sua produção valorizada. Sem deixar de citar que, no caso de pequenos produtores, as partes da propriedade em regeneração podem gerar renda a partir do extrativismo de produtos das árvores nativas, como açaí e cupuaçu.

Como está a floresta?

Até 2020, a Amazônia brasileira teve aproximadamente 81,3 milhões de hectares desmatados, o que corresponde a 20% de sua cobertura florestal. Essa área pode ser comparada a duas vezes o território da Alemanha, ou seja, dois países do tamanho da Alemanha foram desmatados, perderam vida. O nível de desmatamento que vem ocorrendo nos últimos anos é considerado extremamente perigoso, pois tem alto potencial de causar impactos severos na biodiversidade e no regime de chuvas da região. O que poderá comprometer a saúde do clima de todo o mundo!

Restaurar a floresta é uma parte importante da solução global de mudanças climáticas, por representar uma das melhores alternativas para capturar o dióxido de carbono da atmosfera. Outra questão importante é que a restauração de florestas recupera a biodiversidade, regula o microclima e controla as erosões.

Em outra publicação recente do Amazônia 2030, foi indicado que se somente 10% da área degradada da Amazônia (5,7 milhões de hectares) fosse restaurada, seria possível gerar uma receita de até R$ 132 bilhões e retirar da atmosfera cerca de 2,6 bilhões de toneladas de CO2.

Restaurar pode ajudar a superar metas nacionais

Em 2019, foram mapeados 7,2 milhões de hectares de vegetação secundária, aquela vegetação que nasce depois do desmatamento. Desse total, 5,2 milhões de hectares estavam em áreas que não competem com a atividade agrícola voltada à produção de grãos. Isso representou 73% do total da área analisada de vegetação secundária existente há, pelo menos seis anos, ou seja, áreas que estão em recuperação há 6 anos, de acordo com o estudo. Já os outros 2 milhões de hectares (27%) estavam em áreas sob alta pressão de desmatamento, referindo-se a áreas agricultáveis. As áreas que não competem com a agricultura (correspondente aos 73%), apresentam limitação para o plantio ou colheita porque possuem relevo que dificulta o acesso de máquinas agrícolas e estão às margens dos rios, onde o desmatamento é ilegal, chamadas de Áreas de Preservação Permanente ou APPs.

Os resultados desse estudo apontam um alto potencial para restauração florestal em larga escala no bioma Amazônia. A área de 5,2 milhões de hectares seria suficiente para cumprir a meta da Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Proveg), que é recuperar 4,8 milhões de hectares da vegetação nativa do bioma Amazônia até 2030.

Contribuições para o clima e o país

A recuperação da floresta em larga escala gera benefícios para o clima, para o país e para os produtores rurais. Segundo os pesquisadores do estudo, caso a vegetação secundária seja conservada por pelo menos 30 anos, ela pode adquirir características semelhantes às da primária. Ou seja, poderá retornar ao que era antes de ser desmatada. Com isso, ela pode contribuir de forma significativa para mitigar o aquecimento global, para a manutenção dos rios, para o equilíbrio das chuvas e garantir a proteção da biodiversidade.