A fome é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um desconforto físico de curto prazo resultante de escassez crônica de alimentos ou, em casos graves, falta de alimentos que ameaça a manutenção da vida. Em outras palavras, a fome inviabiliza o desenvolvimento e a promoção de saúde. E é preciso lembrar que o Brasil já enfrentou a fome no passado. O paradoxo de sermos um país agrícola e, ainda assim, convivermos com o problema evidencia o quanto o combate à situação depende de políticas públicas que resultam no fortalecimento dos salários, da geração de empregos, da execução de projetos de transferência de renda e da oferta de merenda escolar. Para além de justiça social, a luta contra a fome também depende do desenvolvimento econômico.

O Brasil já vivenciou uma transformação no quadro da fome no passado. Saímos de 9,5% de brasileiros com fome em 2004 e reduzimos a 4,2% em 2013. O período foi marcado pelo crescimento econômico decorrente da alta das commodities, aumento do poder de consumo no mercado interno e intensificação de programas sociais, incluindo o “Fome Zero”. No entanto, em 2018, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) acenderam um alerta para um retrocesso: a fome apresentou aumento e estava presente no dia a dia de 5,8% dos brasileiros.

Infelizmente, o alerta não foi suficiente para resgatar ou melhorar as estratégias de combate à fome. E a situação só piorou com a pandemia da Covid-19. A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PenSSAN) estima que os números da fome retornaram aos patamares de 2004 e que, hoje, 9% dos brasileiros se encontram em situação de fome, representando uma parcela de cerca de 19,1 milhões de pessoas. O que significa dizer que os resultados alcançados em 10 anos de redução da fome foram anulados em praticamente 2 anos.