Como uma das principais atividades econômicas do Brasil, o agronegócio vê cada vez mais a necessidade de se reinventar para acompanhar as mudanças socioambientais e se manter no topo da cadeia produtiva. De acordo com o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) e a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), em 2021, o agronegócio representou 28% do PIB do País, valor 3,69% maior que o do ano anterior. Para se manter crescendo tendo em vista as mudanças climáticas, o setor tem investido em energias renováveis para a redução da emissão de poluentes.

Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, cerca de 80% da matriz elétrica brasileira é renovável. Já com relação à matriz energética, esse número chega a 46%. Nesse sentido, apesar do petróleo ainda ser a fonte mais utilizada, um elemento essencial do agro brasileiro ocupa o segundo lugar: a cana-de-açúcar. Dela, vem a maioria dos subprodutos responsáveis pela geração de 8,3% da eletricidade do País.

Essa responsabilidade pela geração de energia sustentável, que recai sobre o agronegócio, se relaciona amplamente com necessidades ecológicas de sustentabilidade e de enfrentamento às crises ambientais que já acontecem.

Entre as ações em andamento atreladas à descarbonização (entende-se como redução ou mitigação de gases geradores de efeito estufa – GEE – responsáveis diretos pelo aquecimento global), no campo agrícola, temos diversos exemplos, como o sistema Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que concentra em uma mesma área cultivos, plantios e gestão de bovinos com melhor aproveitamento dos insumos, cuja gestão tem baixa emissão de GEE.

Desde 2012, o governo brasileiro, por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), tem um programa destinado a organização e o planejamento de ações a serem realizadas para a adoção de tecnologias de produção sustentáveis com ganhos produtivos e baixa emissão de carbono, o Plano ABC, oficialmente denominado “Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixo Carbono na Agricultura”.

Devido ao seu sucesso, o Mapa lançou em abril de 2021 o Plano ABC +, uma atualização do programa, com metas mais ousadas e que devem aprimorar a sustentabilidade da produção agropecuária ao longo da próxima década. Neste, há a expansão de outras atividades, como a recuperação de pastagens degradadas, fixação biológica de nitrogênio, sistema de plantio direto, entre outros.

Agronegócio e energias renováveis

Outro exemplo que se espalha por todo o agronegócio brasileiro é o emprego da energia renovável. Entram nesse tipo de energia as fontes: hidrelétrica, eólica, solar e biomassa, formada em 90% por subprodutos da cana-de-açúcar.

Vale destacar que essas fontes representam 85% da capacidade instalada de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN), gerido pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) e que integra a eletricidade gerada e que chega ao consumidor pelas distribuidoras.

No caso, 62,5% desse montante cabem às hidrelétricas, 11,9% às eólicas, 8,3% à térmicas movidas a biomassa e 2,7% às solares. De seu lado, as fontes não-renováveis somam os 15% restantes do SIN. São elas, as térmicas a gás (8,8%), a óleo (2,5%) e a carvão (1,7%), usinas nucleares (1,1%) e demais (0,4%).

Como mostrou o relatório BP Energy Outlook 2018, com a previsão de chegar ainda mais longe, favorecendo a economia e o meio ambiente através da redução da emissão de poluentes pelo agronegócio, até 2040, 48% de toda energia consumida no país deve ter origem limpa e renovável.

8,3% de toda geração de eletricidade – ou bioeletricidade – do país vem de bagaço, palha e vinhaça, subprodutos da cana-de-açúcar. Eletricidade gerada pelo agronegócio, exportada para a rede do ONS, e capaz de reduzir a emissão de CO2 e dióxido de enxofre – causador de efeito-estufa. Durante os períodos de ciclo produtivo (safra), as 300 usinas de cana-de-açúcar em operação no Brasil geram 100% da energia que precisam.

A fonte solar, ou fotovoltaica, é outra crescente. As estimativas apontam que, hoje, o setor rural responde por 14% de toda a potência instalada em sistemas próprios de geração. Dessa forma, em momentos de crise hídrica, os painéis fotovoltaicos, por exemplo, podem ser uma saída positiva para o meio ambiente, além de proporcionar maior economia de gastos e maior segurança energética, considerando as condições climáticas do Brasil.

Para tanto, faltava legislação para regulamentar esse modelo, denominado geração distribuída (energia elétrica gerada no local de consumo ou próximo a ele, sendo aceitável para outras fontes de energia renováveis, como a solar, eólica, biomassa e biogás). Porém, desde janeiro de 2022, o governo federal sancionou lei que institui o marco legal do setor, denominado Marco Legal da Micro e Minigeração Distribuída (MMGD).

Desafios da produção agrícola

Em 2020, a agricultura foi responsável por 27% do total de emissões de GEEs, segundo relatório do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima. Este resultado contabiliza as emissões provenientes da digestão dos animais ruminantes (emissores de metano); do tratamento e disposição dos dejetos desses animais; da queima dos resíduos agrícolas; e pela forma como os solos agrícolas são manejados.

O investimento de 100% em operações que não gerem GEE não é tão simples. Uma vez que, a produção agrícola ocorre em quase todo o território nacional, em pouco mais de 5 milhões de estabelecimentos rurais, conforme Censo Agropecuário. Sendo, mais da metade deles formados por pequenas propriedades (até 8 hectares). Condição que revela a dificuldade logística de adoção de uma prática totalmente sustentável em um país como o Brasil, de grande extensão territorial e ao mesmo tempo, economicamente desigual.