Quando falamos em sociobiodiversidade, levamos em consideração a importância de uma relação positiva e duradoura entre o homem e o meio ambiente. E nada melhor do que observarmos a Amazônia para compreendermos esse assunto.
Sabemos que o bioma Amazônia abriga a maior floresta tropical do planeta, possuindo riqueza de recursos naturais e vasta biodiversidade. Esse cenário prevalece até hoje porque os povos que ali viveram e ainda vivem cumpriram o seu papel de extrair dela o seu sustento sem prejuízo aos recursos naturais e todas as formas de vida que fazem desse bioma um dos locais de maior biodiversidade do mundo.
Essa característica que observamos nas matas e florestas da Amazônia é fruto de um manejo que perdura há milhares de anos, principalmente pelos povos originários.
Hoje em dia, com conhecimentos ancestrais e auxílio da tecnologia, povos indígenas e outras comunidades tradicionais produzem alimentos para garantir sua qualidade de vida e gerar ainda mais biodiversidade, beneficiando todo o planeta. É o que conhecemos hoje como produtos da sociobiodiversidade.
Alimentos que vem das florestas
Já somos familiarizados com muitos dos produtos da sociobiodiversidade pois são comercializados nacionalmente e até mesmo internacionalmente. É o caso do açaí, do cacau, do palmito, da castanha-do-pará, da farinha de mandioca e outros. E, existem aqueles que possuem consumo mais restrito a determinadas regiões e chegam a ser classificados como plantas alimentícias não convencionais (PANCs), que é o caso do jambu, um ingrediente indispensável em pratos típicos para os paraenses, como o Pato no Tucupi e o Tacacá, mas não é amplamente comercializado nas demais regiões do país.
Um estudo divulgado em 2021 pela The Nature Conservancy (TNC), sobre a Bioeconomia da Sociobiodiversidade no Estado do Pará, calculou a importância econômica das cadeias de valor de 30 produtos da sociobiodiversidade, incluindo açaí, palmito, castanha-do-pará, murumuru, bacuri, murici, piquiá e outros. As análises mostraram que, em 2019, no Pará, os 30 produtos estudados geraram uma renda total de R$ 5,4 bilhões e 224 mil empregos. Cerca de um terço do valor arrecadado, R$ 1,9 bilhão, representa a renda destinada diretamente aos povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares, que compõem a produção rural local.
Muitos dos alimentos da Amazônia vêm das águas
Nesse bioma está presente a bacia amazônica, que concentra a maior biodiversidade de peixes de água doce do mundo. São aproximadamente 3 mil espécies descritas.
De acordo com a The Nature Conservancy (TNC), o ecossistema aquático da região fornece água e alimentos para 34 milhões de pessoas que vivem na região, sendo 380 diferentes povos indígenas.
São vários os recursos pesqueiros explorados como os bagres, o dourado, piramutaba, matrinxã, tambaqui e o pirarucu. A pesca artesanal garante renda, empregos e segurança alimentar para muita gente da região. Além disso, é um estilo de vida onde as atividades de pesca, processamento e comercialização são compartilhadas entre membros da família. O pescado, principalmente o pirarucu, fortalece o desenvolvimento econômico dos povos e comunidades tradicionais no Sul do Amazonas.
Iniciativas de incentivo à sociobiodiversidade
A Política de Garantia de Preços Mínimos para Produtos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio) tem como objetivo garantir um preço mínimo para produtos extrativistas que ajudam na conservação dos biomas brasileiros, gerando mais renda ao extrativista por meio de subvenção, fortalecendo o desenvolvimento econômico e social das populações tradicionais. Além disso, visa reduzir o desmatamento, equilibrar o clima e proteger o meio ambiente.
Um exemplo disso é a inclusão do pescado de pirarucu na lista integra PGPM-Bio, junto com outros produtos da sociobiodiversidade, como o açaí, a castanha e o cacau. Na safra de 2021 na Resex Médio Purus- localizada entre os municípios de Pauini e Lábrea, o incentivo contribuiu para gerar renda para os mais de 181 pescadores.
Pensando em dar visibilidade para esses produtos, foi lançado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), o “Catálogo de Produtos da Sociobiodiversidade do Brasil”. A publicação apresenta produtos provenientes de populações tradicionais de unidades de conservação no país. Para acessar o catálogo, clique aqui.
Outra iniciativa com o objetivo de incentivar o consumo de produtos da sociobiodiversidade e estimular uma alimentação saudável e nutritiva em escolas públicas do Norte do Brasil, foi lançado em 2020 o livro “Amazônia à Mesa”. A publicação elaborada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Cooperação Técnica Alemã pelo Desenvolvimento Sustentável (GIZ) com apoio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) conta com mais de 40 receitas que destacam a culinária da Amazônia.