Uma das formas mais eficientes de se combater o desperdício de alimentos, que está entre os principais problemas da insegurança alimentar, é conservá-los de forma adequada. Por isso, a embalagem e o armazenamento dos produtos são essenciais. Pensando nisso, pesquisadores das escolas de Saúde Pública e de Engenharia Aplicada da Universidade de Harvard, uma das mais conceituadas instituições de ensino e pesquisa dos Estados Unidos, criaram um tipo de embalagem que não só protege os alimentos como também prolonga sua vida. 

Inspirados na Medicina dos campos de batalha, os cientistas desenvolveram uma fibra que impede a multiplicação de fungos e bactérias, semelhante a curativos para pele humana. Um dos autores da descoberta, o bioengenheiro Huibin Chang, declarou: “Como se viu, curativos para feridas têm o mesmo propósito, de certa forma, que embalagens de alimentos – sustentar tecidos, protegê-los contra bactérias e fungos e controlar a umidade”.

A descoberta surgiu a partir de uma macromolécula (que é uma grande molécula orgânica, como carboidratos, lipídios, proteínas e ácidos nucleicos). Ela é chamada “Pullulan” e é desenvolvida numa máquina curiosa, parecida com a que faz algodão doce para as crianças. Enquanto o solvente evapora, as macromoléculas (polímeros nesse caso) vão criando uma película fina em torno do alimento. 

O material da embalagem é antimicrobiano e foi desenvolvido em um sistema de alto rendimento usando um polissacarídeo (tipos de carboidratos, como a celulose, o amido…) chamado pullulan

O alimento usado para os testes do novo produto foi o abacate, e os resultados foram muito positivos, sendo considerados como “prova de conceito” do estudo para uma tecnologia de baixo custo, biodegradável e eficaz na proteção da segurança e qualidade de frutas e vegetais. 

A experiência colocou abacates durante sete dias em uma bancada do laboratório. Depois desse tempo, 90% dos desembrulhados haviam apodrecido. Nos que estavam embalados com a nova fibra, esse número caiu para 50%, o que comprovou a capacidade do produto biodegradável de garantir durabilidade para a fruta. Em relação às bactérias e fungos, a nova embalagem foi comparada com o papel alumínio, e também apresentou resultados favoráveis, já que apresentou uma redução substancial de contaminação, segundo os pesquisadores.

Apenas para pontuar o quanto descobertas e estudos como estes são importantes para combater a insegurança alimentar, o Índice de Desperdício de Alimentos 2021 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente apontou que cerca de 931 milhões de toneladas de alimentos vão para o lixo todos os anos. Mais da metade desse total saem do lixo doméstico, da casa das pessoas. Ainda segundo esse índice, a média global do desperdício das famílias é de 74 kg ao ano.

A pesquisa foi publicada na revista de pesquisas científicas Nature Food.