Não é de hoje que a ciência vem colaborando com o melhoramento de plantas, tornando-as capazes de superar adversidades encontradas no campo, além de deixá-las mais produtivas. Técnicas da biotecnologia permitem, por exemplo, melhorar o desempenho de culturas agrícolas a partir de características encontradas em outras espécies, sendo possível adicionar a elas ganhos de eficiência não disponíveis no banco de sementes da cultura (germoplasma). Um exemplo desses ganhos é a melhoria no processo de fotossíntese que, consequentemente, melhora o rendimento das plantas.
Muita gente desconhece a importância dessa tecnologia no nosso dia a dia, mas ela contribui diretamente com a diminuição do preço dos alimentos que consumimos. Isso beneficia a todos, principalmente aqueles que se encontram em situações mais vulneráveis, pois minimiza problemas relacionados à segurança alimentar.
Nesse momento de alta vulnerabilidade que estamos vivendo, surge a necessidade de olhar com maior atenção para técnicas inovadoras da ciência, como é o caso da biotecnologia. Além de contribuir com plantas com maiores rendimentos para atender a demanda nutricional da população, podem trazer benefícios ambientais, tornando a produção agrícola mais sustentável.
Eficiência na agricultura e desenvolvimento sustentável
Dobrar a produtividade agrícola e garantir sistemas sustentáveis de produção de alimentos estão entre as metas do Objetivo 2 (ODS 2), que é um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. O ODS 2 objetiva erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável.
Segundo o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), intitulado “O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2022”, quase 10% da população mundial não tem o que comer e até 2030 aproximadamente 670 milhões de pessoas, ou seja, 8% da população, ainda deverão enfrentar problemas com escassez de alimentos e desnutrição.
Assim utilizar tecnologias para gerenciar recursos genéticos, manter a diversidade de plantas cultivadas, sementes, inclusive por meio de bancos de sementes é de extrema importância para todos.
Como a biotecnologia funciona?
Para melhorar o desempenho das plantas com técnicas da biotecnologia são necessários muitos anos de pesquisa. A prática envolve cientistas de diversas áreas do conhecimento, como biologia molecular, genética, bioquímica, bioinformática e agronomia.
No caso dos transgênicos, por exemplo, eles foram desenvolvidos por meio de diferentes técnicas derivadas da tecnologia do DNA recombinante, como a amplificação do DNA (obtenção de cópias de uma região do genoma), a clonagem gênica (que permite a transferência de fragmento de DNA entre organismos) e sequenciamento (onde se faz a identificação e leitura dos genes).
Com essas técnicas é possível incorporar características como resistência a insetos, tolerância a herbicidas, que beneficiam os produtores reduzindo custos, simplificando o manejo de pragas e aumentando o rendimento das culturas. Mas outras características também já foram incorporadas em plantas melhoradas por essas técnicas como tolerância a alta ou baixa temperatura, pouca água, ganhos nutricionais.
Outra funcionalidade da biotecnologia é melhorar a eficiência fotossintética das plantas. Neste ano, um trabalho recente conduzido por cientistas da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, conseguiu alterar o processo de fotossíntese em plantas de soja, utilizando recursos da biotecnologia. Também foi possível aumentar a eficiência da absorção de luz solar pelas plantas, o que resultou em maiores rendimentos na lavoura, sem perda de qualidade.
São vários os benefícios que a biotecnologia pode proporcionar
O uso da biotecnologia na agricultura é de extrema importância, tornando-a hoje em dia praticamente indispensável. Suas técnicas aumentam a produção agrícola, desenvolvendo plantas mais adaptadas aos desafios do campo. Com isso, é possível obter mais alimentos disponíveis para a população.
Inclusive a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) reconhece que as técnicas da biotecnologia podem se tornar importantes na adaptação e mitigação das mudanças climáticas. No melhoramento de plantas, por exemplo, essas técnicas podem permitir maior eficiência no uso de insumos, aumentos de rendimento e resistência a estresses bióticos e abióticos, enquanto no manejo florestal, técnicas forenses são usadas para rastreabilidade e cumprimento de leis ambientais.
Informações mais detalhadas sobre o assunto podem ser encontradas no documento intitulado “Desenvolvimentos recentes em biotecnologias relevantes para a caracterização, uso sustentável e conservação de recursos genéticos para alimentação e agricultura” que a Comissão de Recursos Genéticos para Alimentação e Agricultura da FAO publicou em maio de 2022. A publicação abrange os últimos desenvolvimentos relevantes para todos os setores de recursos genéticos para alimentação e agricultura, incluindo a área florestal, animal, aquática, a de microrganismos e invertebrados.
Quando falamos na otimização do uso de insumos, a produção de proteínas nas plantas com resistência a insetos diminui o número de aplicações de inseticidas nas lavouras. Dessa forma, resulta em economia de trabalho, combustível e entrada de máquinas no campo.
Já a adoção de sementes com tolerância ao herbicida favorece maior conservação do solo, por viabilizar a prática do plantio direto. Esse sistema procura manter o máximo de resíduos vegetais e executar o mínimo de mobilização no solo, proporcionando e mantendo a qualidade física e de composição da terra, reduzindo inclusive a erosão, assoreamento de rios e outros problemas relacionados à preservação do meio ambiente.
O maior uso de plantas melhoradas por meio da biotecnologia proporcionou queda generalizada nos preços dos produtos agrícolas ao longo do tempo. Isso é decorrente da maior produtividade dessas plantas e de seus custos de produção reduzidos.
Com isso, contribuem para a sustentabilidade da agricultura, uma vez que trazem vantagens econômicas, ambientais e sociais. O agricultor consegue produzir mais usando menos terra para plantar, menos pesticidas, menos água para diluir esses produtos e menos combustível para sua aplicação, ou seja, auxilia na diminuição de vários fatores que favorecem as mudanças climáticas.