Você já se perguntou sobre o quanto a produção agrícola transforma o meio e o seu entorno? É muito comum ouvirmos questionamentos sobre impactos ambientais, sociais e até mesmo econômicos da agricultura. Mas, será que podemos fazer generalizações com base em um ou outro fato isolado?

 

Um olhar sobre o passado revela que foi a agricultura a grande responsável pelo surgimento das cidades. Bem depois, com o avanço agrícola e das tecnologias, fomos acompanhando o crescimento de metrópoles e o acesso à educação. Em outras palavras, a produção agrícola foi incorporando conhecimento e inovação. Atraindo pessoas e comunidades com habilidades muito diversas.  E como qualquer outro setor, enfrenta fragilidades e possui  oportunidades de melhoria.

Muito além do campo

O índice de desenvolvimento humano (IDH) é uma avaliação que leva em conta a renda per capita, a saúde e a educação de uma região. Quando se observou esses valores, se constatou que entre 1991 e 2010, os municípios que concentravam atividades agrícolas  apresentaram os melhores valores de IDH.

 

Os maiores crescimentos de IDH foram encontrados nos municípios produtores de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar do Cerrado brasileiro. Nas regiões de produção de soja, cana-de-açúcar, milho e algodão, o IDH cresceu 64%, 65%, 73% e 131%, respectivamente.

 

A Sociedade Nacional da Agricultura (SNA) mostrou que a cidade de Sorriso, no estado do Mato Grosso, possuía IDH de 0,517 em 1991. Após o crescimento das lavouras de soja, em 2000, o município mais que dobrou em número de habitantes e o IDH subiu para 0,664. Dez anos depois, com um número ainda maior de moradores, o IDH foi para 0,744, um aumento de 44% em 20 anos. As oportunidades de trabalho na cidade de Sorriso fizeram muita gente migrar para lá.

 

Até mesmo dentro das cidades e regiões periurbanas pode existir agricultura, beneficiando comunidades. O estudo do Instituto Escolhas avaliou 60 mil hectares cultivados em propriedades modelo na área periurbana da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e mostrou que eles teriam o potencial de abastecer com verduras e legumes 20 milhões de pessoas por ano e criar 180 mil novos postos de trabalho na metrópole.

 

O que é Agricultura Urbana e Periurbana (AUP)?

É o cultivo e a distribuição de alimentos e outros produtos dentro da área urbanizada e imediações. A prática acessa recursos urbanos – como espaço físico e mão de obra – e, não raro, direciona sua produção para os habitantes das cidades, atuando de forma integrada aos sistemas econômico e ecológico desses territórios. Assim como sofre efeitos das dinâmicas urbanas (como violência e competição por terra), a AUP também influencia a segurança alimentar, a saúde e o meio ambiente das cidades.

Com pesquisa, a produção se multiplica

Se você pensa que tudo que se planta, cresce, está enganado. É preciso entender o tipo de solo, as condições ambientais e as características mais apropriadas de plantas para cada ambiente. Ou seja, se uma região agrícola se desenvolve é porque foi feito um grande investimento em tecnologia para adaptar todas as condições e até mesmo as plantas.

E o Brasil tem boas histórias nessa área.  O plantio de uvas, uma planta que se desenvolve em climas frios, é cultivada com alto rendimento no Nordeste brasileiro. Resultado de cruzamentos que selecionam características de tolerância ao calor e um controle eficiente na disponibilidade de água (monitoramento, podas e sistema de irrigação).

Com esse investimento em ciência e tecnologia, a fruticultura do Nordeste se transformou. Atualmente, as uvas estão entre as 5 frutas mais exportadas e de maior retorno econômico. Já no primeiro trimestre de 2021, houve um aumento de 105% na exportação de uvas em relação ao ano de 2019.

Muito perto de você

E não precisamos ir muito longe para enxergar o impacto social da agricultura na vida das pessoas. São Paulo incorporou e conectou toda a cadeia de alimentos de uma forma circular e sustentável. O trabalho é resultado do projeto Ligue os Pontos desenvolvido dentro da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento da cidade de São Paulo.

Produtores rurais da cidade recebem assistência técnica para produzir alimentos dentro da agricultura regenerativa, sem uso de defensivos químicos e seguindo a época de cada alimento. Para a distribuição desses produtos foi criada uma logística que prioriza feirantes e restaurantes mais próximos. Restos de alimentos são levados para locais de compostagem e o resultado do processo retorna aos produtores, para que sirva de adubo em suas lavouras.

Confira o projeto no vídeo: Economia circular dos alimentos em São Paulo

Outra iniciativa que merece destaque dentro da cidade de São Paulo é a Associação de Agricultores da Zona Leste (AAZL). Ela reúne 40 agricultores da Zona Leste de São Paulo, prestando serviços de assistência técnica agroecológica, promove parcerias para comercialização e feiras do Parque do Carmo e do SESC Itaquera. A associação busca técnicas agroflorestais para intensificar a produtividade das hortas e auxilia na transmissão desses conhecimentos para os mais jovens sucessores.

As ações que fomentam a comercialização de produtos provenientes da agricultura familiar também são cruciais para se estabelecer uma relação de ganha-ganha entre consumidores e produtores. Um exemplo disso é o uso da tecnologia com base em e-commerce que auxiliou a Cooperativa de Agricultura Familiar da Bahia – a COOPERCUC – na recuperação de vendas que haviam caído em quase 80% com a chegada da pandemia de COVID-19.

Os resultados da ação foram tão promissores que inspiraram a COOPERCUC e outras cooperativas e produtores a apoiarem o “Guia Prático para Comercialização de Produtos da Agricultura Familiar: Lições aprendidas no período de pandemia e novas perspectivas”, desenvolvido pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA).

Famílias trabalhando juntas

De acordo com o último censo agropecuário, mais de 10 milhões de pessoas ocupadas na agropecuária pertenciam a estabelecimentos classificados como da agricultura familiar, representando 67% do total de empregos do setor. O levantamento, que foi realizado em mais de 5 milhões de propriedades rurais, apontou que esses correspondiam a 77% das propriedades agrícolas do país.

Além disso, o número de empregos também vem crescendo no setor. Até o segundo trimestre de 2021, somaram-se mais de 18 milhões de pessoas empregadas no agronegócio brasileiro. No campo, até o período avaliado, eram 8,7 milhões de trabalhadores, enquanto 5,5 milhões e 3,6 milhões foram ocupadas nas áreas de serviços e agroindústria, respectivamente. Já o setor de insumos empregou 220,4 mil pessoas.