Paraisópolis, a segunda maior comunidade da cidade de São Paulo e a quinta do Brasil, completou 100 anos em setembro desse ano. Localizada na zona sul, tem cerca de 120 mil moradores – população equivalente a cidades médias do País, como Apucarana (PR), Crato (CE) ou Santa Cruz do Sul (RS). Se destaca por diversas ações e projetos de empreendedorismo de alto impacto social, como a criação de hortas comunitárias que alimentam os moradores, além de contribuir com projetos sociais como o Mãos de Maria. Quer saber mais sobre como alfaces, cenouras e couves podem empoderar mulheres, alimentar famílias e contribuir para uma sociedade mais justa? Confira a entrevista com Flavia Rodrigues, que é presidente da Associação de Mulheres de Paraisópolis e uma apaixonada pelo projeto.
Você poderia começar contando o que é a horta comunitária de Paraisópolis, também conhecida como AgroFavela Refazenda? Em que contexto começou esse projeto?
O AgroFavela é uma horta comunitária com o conceito de horta urbana; é uma iniciativa do G10 Favelas. Nasceu durante a pandemia, para combater a fome e a má nutrição. Tem como objetivo ampliar as ações de capacitação e educação de pessoas na comunidade de Paraisópolis para o cultivo de hortaliças, com foco especial em mulheres, gerando trabalho e renda para a comunidade.
Aqui temos plantas medicinais, frutíferas e hortaliças.
Quem planta e quem se beneficia da iniciativa?
Os alimentos produzidos na horta são distribuídos para as mulheres que fazem a capacitação de cultivos. Todas as quartas-feiras tem colheita, atendemos 400 famílias.
Os moradores da comunidade estão aprendendo a em casa? Como isso funciona? Vocês contam com instrutoras, jardineiros, enfim, pessoas que dão orientações técnicas para irrigação e adubação?
As mulheres participam das nossas oficinas a cada 15 dias. Elas aprendem como cultivar as hortaliças em casa, e quem dá a capacitação é nossa jardineira Dona Adélia, que ensina passo a passo como cultivar.
Qual o papel das mulheres que participam desta ação?
Elas podem ter conhecimento e acesso à alimentação saudável, o que valoriza a autoestima e o fortalecimento da rede. As mulheres têm reconhecido muito bem os benefícios do consumo das hortaliças. Além da oficina de cultivo, elas participam de aulas e palestras sobre a importância da alimentação saudável.
O AgroFavela Refazenda, além de atender os moradores de Paraisópolis, contribui com o projeto Mãos de Maria, voltado ao empoderamento de mulheres por meio da gastronomia. Você poderia explicar?
O AgroFavela faz a doação das hortaliças para o Mãos de Maria, que usa nas marmitas solidárias distribuídas por eles.
Essa é uma iniciativa de alto impacto social, porque dá chance à população local de não ficar dependente de ações do governo ou mesmo de doações. O projeto do AgroFavela tem financiamento? Qual/quais?
Temos como parceiro o Stop Hunger.
(O Stop Hunger é uma ONG que luta contra a fome, criada em 1996 nos Estados Unidos, por colaboradores da Sodexo que acreditavam que qualidade de Vida começa quando todas as necessidades básicas das pessoas são atendidas. Atualmente, o Stop Hunger é uma liderança no combate à fome e má nutrição no Brasil e no mundo. É uma instituição independente que atua dentro do ecossistema da Sodexo – colaboradores, clientes, consumidores, fornecedores e acionistas – conduzindo ações nos 80 países em que a empresa atua. No Brasil, iniciativas Stop Hunger são realizadas desde 2003, com o objetivo de combater a fome no país. Com o crescimento das ações, do estímulo ao voluntariado e das parcerias em prol do desenvolvimento das comunidades locais, constitui-se o Instituto Stop Hunger em 2015, a fim de fortalecer a causa STOP Hunger no país e melhorar a qualidade de vida das pessoas, por meio de campanhas contra a fome e campanhas de alimentos.)
O G10 Favelas (bloco de líderes e empreendedores de impacto de comunidades brasileiras) planeja levar essa iniciativa para outras comunidades do Brasil?
Hoje já temos AgroFavela em outras comunidades como Heliópolis, e logo vamos estar em outros lugares como Betim (MG), Rio de Janeiro e Recife. Nosso objetivo é poder combater a fome e a má nutrição e garantir segurança alimentar para todo o Brasil.
O que Paraisópolis pode ensinar ao Morumbi?
É possível construir uma sociedade mais justa. Que não existe um Morumbi bom com uma Paraisópolis ruim. Precisamos quebrar os muros para poder transformar a sociedade em que vivemos.
Coordenadora de projetos, empreendedora social, organizadora e representante do G10 Favelas, Flavia Rodrigues é presidente da Associação de Mulheres de Paraisópolis. Participou da disciplina de Design em Contextos Sociais pela faculdade INSPER, em curso de curta duração no Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos. Estudou Marketing, no Centro Universitário Ítalo Brasileiro e Gestão de Projetos, na Fundação Dom Cabral.