Segundo o último Censo Agropecuário do IBGE, de 2017, 1,03 milhão de propriedades rurais dispõem de pelo menos um poço tubular. Dessa forma, as águas podem servir tanto para o consumo dos moradores quanto para a criação de animais ou a irrigação de lavouras.

Considerando-se o consumo per capita de águas subterrâneas, a irrigação responde pela maior parcela no país, com 48,7 metros cúbicos/hora de vazão, segundo a ANA – Agência Nacional de Água e Saneamento Básico. Em seguida vêm o uso industrial (20,9 m3/hora de vazão) e o abastecimento de zonas urbanas e rurais (17,9 m3/hora de vazão).

Dados do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) do Estado de São Paulo registraram que em 2021 houve a maior concessão de outorgas para a instalação de poços que extraem água do Aquífero Guarani. Foram mais de 500 e atualmente, ainda segundo o DAEE, existem mais de 3 mil poços autorizados a operar na porção paulista do aquífero.

O uso exacerbado de aquíferos para a irrigação é um tema de grande preocupação em países desenvolvidos. O caso mais célebre é o do aquífero Ogallala, usado intensamente para a irrigação de plantações na região das Grandes Planícies, nos Estados Unidos. Pesquisas apontaram que, em boa parte de sua extensão, o aquífero tem perdido muito mais água do que consegue absorver, o que coloca em risco o abastecimento de vários Estados e o fluxo de rios da região.

Contaminação preocupa 

Os esgotos não coletados e não tratados representam uma das principais fontes de contaminação de aquíferos no Brasil – realidade que já ocorre em capitais como Manaus, Belém, Natal e Maceió. Mas, mesmo em cidades com redes de esgoto mais antigas e com baixa manutenção tem sido observados problemas de contaminação por causa de vazamentos.

Os rejeitos industriais também contaminam aquíferos, como aconteceu no bairro de Jurubatuba, na zona sul de São Paulo. Por conta disso, as autoridades tiveram que proibir a escavação de poços e interditar os existentes. Segundo a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo), apenas no estado de São Paulo, estima-se que haja entre 3 mil e 4 mil pontos de contaminação de aquíferos. Em relatório de 2020, a companhia afirmou que 23,9% das amostras coletadas no Aquífero Guarani apresentaram índices acima dos parâmetros para itens como alumínio, bário, selênio e coliformes.

Os especialistas entendem que ainda seja preciso estudar melhor o contexto para categorizar a situação e, principalmente, identificar os causadores das contaminações em aquíferos brasileiros.