Agrobit Brasil 2024
ONDE: Londrina, PR
11 e 12 de novembro de 2024
QUERO SABER MAISEnquanto 783 milhões de pessoas foram afetadas pela fome e um terço da humanidade enfrentou insegurança alimentar, os domicílios de todos os continentes desperdiçaram mais de 1 bilhão de refeições por dia em 2022. É o que traz o último relatório do Índice de Desperdício de Alimentos 2024 (Food Waste Index Report) do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) conduzido em parceria com a ONG WRAP.
O relatório foi elaborado com base no levantamento que incluiu 93 países focando o desperdício de alimentos por parte do consumidor e do varejo. O levantamento revelou que cada pessoa desperdiça 79 kg de alimentos por ano e que este comportamento não é apenas um problema de “país rico”. Afinal, países de alta renda, de renda média alta e de renda média baixa diferiram nos níveis médios observados de desperdício de alimentos domiciliar em apenas 7 kg/capita/ano.
Como já se pode prever, o desperdício não afeta apenas a economia global, mas também agrava os problemas ambientais, contribuindo para as mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição.
Em suma, os achados revelam que precisamos promover mudanças de hábitos com urgência.
No período do levantamento, ano de 2022, foram gerados 1,05 bilhão de toneladas de resíduos alimentares (incluindo partes não comestíveis), totalizando 132 quilos per capita, e quase um quinto de todos os alimentos disponíveis para os consumidores. Os maiores responsáveis foram os lares, que representaram 60%, cerca de 631 milhões de toneladas. Restaurantes, refeitórios e hotéis foram responsáveis por 28% (290 milhões de toneladas) do total de desperdício de alimentos, enquanto o comércio varejista, como açougues e mercearias, descartou 12% (131 milhões de toneladas).
O Índice de Desperdício de Alimentos no Brasil foi calculado com base em estudo realizado na cidade do Rio de Janeiro. Com isso, o resultado de desperdício alimentar estimado por brasileiro ao ano foi de 77kg. Valor muito próximo da média global de 79 kg. Sendo que desses, 62% se referem ao desperdício dos domicílios, contra 60% da estimativa mundial.
Entre os alimentos desperdiçados, frutas e verduras foram os predominantes, com 62%. Os produtos de panificação ocuparam o segundo lugar, representando 16% do total de alimentos desperdiçados no Brasil.
Os pesquisadores que apoiaram o estudo ressaltaram que o montante de desperdício por pessoa ao ano levou em consideração tanto sobras de refeições, tais como arroz e feijão, quanto cascas de frutas e ossos. Também destacaram que fatores que levam ao desperdício precisam ser explorados em pesquisas qualitativas.
De acordo com as análises do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a perda e o desperdício de alimentos geram de 8% a 10% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE). Para você ter uma ideia, esse valor é quase 5 vezes maior do que o impacto gerado pelo setor de aviação. Além disso, representa uma perda significativa de biodiversidade ao ocupar o equivalente a quase um terço das terras agrícolas do mundo que, por conta do desperdício, tem como seu destino, um aterro sanitário.
Diante desse cenário, fica claro o porquê da perda e/ou redução do desperdício de alimentos estar sendo discutida como temática que deva ser incluída nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) dos compromissos climáticos de um número maior de países. Como forma de abordarmos o desperdício alimentar, tanto a nível individual como sociedade.
O relatório alerta e traz orientações aos países sobre o aprimoramento da coleta de dados e sugere ações para passar da mensuração à redução do desperdício alimentar.
Ainda que se tenha observado uma melhoria na infraestrutura das informações e de estudos rastreando o desperdício de alimentos, a maioria dos países não possuem sistemas adequados para acompanhar os avanços no cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12.3, que busca reduzir pela metade o desperdício de alimentos até 2030.
Para os especialistas do setor, no contexto atual, o relatório serve como um importante guia para os países medirem e comunicarem o desperdício alimentar. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), apenas quatro países do G20*(Austrália, Japão, Reino Unido, EUA) e a União Europeia têm estimativas de desperdício alimentar adequadas para acompanhar os progressos até 2030. Enquanto isso, no Brasil estão em andamento atividades para desenvolver uma linha de base até o final deste ano.
*O G20 ou Grupo dos 20 é formado por ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Africana e União Europeia. Além da União Europeia e da União Africana, integram o G20 os seguintes países: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia.
De acordo com a ONU, o PNUMA acompanha o progresso e propõe soluções para reduzir o desperdício de alimentos até 2030. Uma dessas soluções é a ação sistêmica por meio de parcerias público-privadas: trazer o setor público, o setor privado e o não governamental para trabalhar juntos, buscando soluções e avanço no tema.
Na perspectiva do PNUMA, as iniciativas conjuntas poderão proporcionar reduções do desperdício alimentar da produção agrícola à mesa, reduzindo as emissões de GEE e incentivando uma mudança a longo prazo.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) cerca de 30% dos alimentos produzidos mundialmente são perdidos ou desperdiçados. Para a FAO, é preciso reduzir as perdas no interior das fazendas por meio de sistemas de gerenciamento pós-colheita que abordam fatores como manuseio, armazenamento, processamento, cadeias de frio e outras soluções. Para isso, é preciso ampliar as parcerias com produtores, agentes da cadeia de valor e varejistas, bem como maior rastreabilidade, conscientização e comunicação com os consumidores para mudar seu comportamento e evitar o desperdício de alimentos.
Na mesma direção, especialistas da EMBRAPA reconhecem que, para se evitar o desperdício de alimentos nos domicílios brasileiros é preciso implementar ações no campo no final do ciclo de produção de alimentos, pois, muitas vezes, vegetais estragam rapidamente na geladeira por conta de deficiências no manejo pós-colheita ou da utilização de embalagens inadequadas para armazenamento e transporte. Além disso, os pesquisadores destacam a importância de se promover mudança nos hábitos de consumo enraizados na cultura brasileira, onde ainda se valoriza muito a abundância na mesa.
Enquanto isso, em nossos lares podemos contribuir para a redução de perdas adotando algumas ações. Como por exemplo, planejar as compras semanais, evitando-se compras muito grandes. Além de higienizar e conservar corretamente os alimentos. Não descartar alimentos imperfeitos e reaproveitar as sobras das refeições.
Outros caminhos possíveis incluem a criação de hortas caseiras e a prática de compostagem para alimentos orgânicos. Neste último, a prática é uma boa opção para a gestão de resíduos orgânicos, já que transforma as sobras em adubo. O método diminui o volume de resíduos depositados nos aterros sanitários e a emissão de GEE, bem como contribui com a sustentabilidade na adubação de plantas e hortas caseiras.
Para discutir sobre o que estamos fazendo para eliminar o desperdício, é fundamental que haja alinhamento entre setor público, privado e terceiro setor. O Entre Solos promove o diálogo para avanço do setor de alimentos e agricultura do Brasil no alcance das metas dos ODS2 e 12. Os diálogos promovidos no Brasil e na COP são uma oportunidade para a liderança de ações efetivas pela sustentabilidade de toda a cadeia de alimentos. O “desperdício de alimentos” será um dos temas discutidos no próximo Diálogo. Continue acompanhando as nossas redes e participe conosco.
O desperdício de alimentos é um contrassenso humanitário. Enquanto milhões de pessoas passam fome, desperdiçamos alimentos. Além de ser uma questão importante de desenvolvimento, os impactos desse desperdício ainda afetam o clima e a natureza.
No entanto, se os países priorizarem o tema, poderão reverter a perda e o desperdício de alimentos, reduzir os impactos climáticos, os prejuízos econômicos e contribuir com o alcance das metas globais.
Com o elevado custo do desperdício de alimentos para o meio ambiente, sociedade e economias globais, precisamos de uma ação coordenada em todos os continentes e cadeias de suprimentos.
Neste contexto, o relatório sugere que os países do G20 liderem esforços globais para reduzir o desperdício de alimentos e promovam parcerias público-privadas, visando mitigar os impactos ambientais e impulsionar inovações para mudanças sustentáveis no sistema alimentar.
Sobre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
O PNUMA é a principal voz global sobre o meio ambiente. Fornece liderança e incentiva a parceria no cuidado com o meio ambiente, inspirando, informando e permitindo que nações e povos melhorem sua qualidade de vida sem comprometer a das gerações futuras.
Sobre a WRAP
A WRAP é uma ONG global com sede no Reino Unido. É uma das 5 principais instituições de caridade ambiental do Reino Unido e trabalha com governos, empresas e indivíduos para garantir que os recursos naturais do mundo sejam usados de forma sustentável. Fundada em 2000 no Reino Unido, a WRAP agora trabalha em todo o mundo e é parceira da Aliança Global do Earthshot Prize da Royal Foundation.
Food Wastage Footprint & Climate Change. Disponível em: https://openknowledge.fao.org/server/api/core/bitstreams/7fffcaf9-91b2-4b7b-bceb-3712c8cb34e6/content
Forbes, H., Peacock, E., Abbot, N., Jones, M., 2024. Food Waste Index Report, 2024. PNUMA. Disponível em: https://www.unep.org/resources/publication/food-waste-index-report-2024
Mbow, C., C. Rosenzweig, L.G. Barioni, T.G. et al., 2019: Food Security. In: Climate Change and Land: an IPCC special report on climate change, desertification, land degradation, sustainable land management, food security, and greenhouse gas fluxes in terrestrial ecosystems. Disponível em: https://www.ipcc.ch/srccl/chapter/chapter-5/
World squanders over 1 billion meals a day, according to UN. Embrapa, 2024. Disponível em: https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/87972089/mundo-joga-fora-mais-de-1-bilhao-de-refeicoes-por-dia-segundo-aonu#:~:text=Desde%202021%2C%20houve%20um%20fortalecimento,em%20n%C3%ADvel%20domiciliar%20quase%20dobrou.
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