Alimentos

Alimentos / 31/07/2024

Cenário de fome e da subnutrição pedem mudanças globais

Transformação dos sistemas agroalimentares é uma das medidas urgentes apontadas pelo último relatório da FAO

A edição anual do relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2024” da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e as agência parceiras da ONU (FIDA, WFP, OMS e UNICEF) revela um panorama preocupante sobre a fome, insegurança alimentar e desnutrição global. Apesar de alguns progressos, o mundo ainda está longe de erradicar a fome até 2030, conforme meta do ODS2 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2). Entre os principais pontos abordados no estudo destaca-se a necessidade urgente de aumento do financiamento e de transformação dos sistemas agroalimentares para o enfrentamento desse desafio.

A fome no mundo

Em 2023, entre 713 e 757 milhões de pessoas enfrentaram a fome, o equivalente a 1 entre 11 pessoas no mundo. Enquanto a insegurança alimentar moderada ou grave atingiu cerca de 2,33 bilhões de pessoas (28,9% da população global) refletindo um desafio persistente no acesso a alimentos.

Segundo o relatório, a falta de acesso a alimentos seguiu crescendo na África, onde uma em cada cinco pessoas passa fome, ficou estável na Ásia e teve progresso na América Latina e no Caribe.

critérios sobre a fome

No Brasil cerca de 8,4 milhões de pessoas passaram fome entre 2021 e 2023, o que equivale a 3,9% de toda a nossa população. Os dados também indicam que, no mesmo período, o número de brasileiros em insegurança alimentar foi de 39,7 milhões, sendo que 14,3 milhões estavam em estado severo.

Quando comparamos com a edição anterior, que trouxe dados do período 2020-22, o Brasil registrou avanços, principalmente na redução da insegurança alimentar. O número de brasileiros em estado de desnutrição era de 10,1 milhões e de insegurança alimentar era de 70,3 milhões. No entanto, a insegurança alimentar no Brasil, ainda está acima do período de 2014 a 2016, quando o total da população nessa situação era de 27,2 milhões.

Convém mencionar, que trouxemos o período de 2014 a 2016 como comparativo por conta do histórico brasileiro no tema. O país passou a década de 1990 e o início de 2000 criando e implementando estratégias voltadas para a segurança alimentar e nutricional até que, finalmente, em 2014, superou o índice que o colocava entre os piores colocados no ranking global da subalimentação.

Nesse contexto, como 3,9% da população ainda estavam na condição de subnutridos (no triênio 2021-2023), mesmo com os avanços, o Brasil permanece no Mapa da Fome da ONU. Para estar fora do Mapa da Fome, o percentual precisa ser menor do que 2,5% da população.

O que explica o quadro da fome?

O progresso na erradicação da fome e promoção da segurança alimentar e nutrição estagnou nos últimos anos, devido a um conjunto de fatores. A pandemia de COVID-19, os conflitos políticos, eventos climáticos e as desacelerações econômicas são identificados como as principais razões para estarmos tão distantes do ODS2.

O relatório mostra que mais de um terço da população mundial não pode pagar por uma dieta saudável. O aumento nos preços dos alimentos devido a interrupções globais agravou ainda mais essa situação, evidenciando a necessidade de políticas públicas que garantam a acessibilidade econômica a alimentos nutritivos.

A desigualdade no acesso reflete a forma como a fome se espalha no mundo. Países de renda baixa reúnem a maior proporção da sua população que não tem condições de arcar com os custos de uma dieta saudável (71,5%). No caso das nações de renda alta, o porcentual é de 6,3%.

Se não promovermos mudanças efetivas e urgentes, o estudo estima que 582 milhões de pessoas estarão cronicamente subnutridas no final da década, mais da metade delas na África.

Financiamento para acabar com a fome, a insegurança alimentar e todas as formas de desnutrição

A edição atual do estudo destacou a importância dos mecanismos de financiamento de ações contra a fome. A análise revelou que a segurança alimentar e nutrição receberam menos de um quarto do fluxo total de assistência para o desenvolvimento. Esses recursos somam cerca de US$ 76 bilhões (R$ 424 bi) por ano, entre 2017 e 2021, dos quais apenas 34% foram destinados para o enfrentamento das maiores causas da insegurança alimentar e da desnutrição. De fato, o financiamento atual para segurança alimentar é inadequado e mal distribuído, com países de baixa renda enfrentando grandes desafios de financiamento.

O relatório enfatiza a necessidade de implementação de políticas eficazes e o aumento do financiamento para garantir que todos tenham acesso a alimentos seguros e nutritivos. Como mecanismo, a FAO menciona que a comunidade global deve intensificar seus esforços para transformar os sistemas agroalimentares e enfrentar os desafios persistentes da insegurança alimentar e desnutrição.

Os recursos devem garantir a disponibilidade, acesso, utilização e estabilidade de alimentos nutritivos e seguros, promover dietas saudáveis e fortalecer a resiliência dos sistemas agroalimentares contra os principais impulsionadores e fatores estruturais da fome, insegurança alimentar e desnutrição.

Transformação dos sistemas alimentares

Sem dúvida, a segurança alimentar em um planeta que enfrenta mudanças climáticas e escassez de recursos naturais também depende da transformação dos sistemas alimentares para modelos mais eficientes, inclusivos, resilientes e sustentáveis. Tudo isso, em busca de ​​uma melhor produção, melhor nutrição, melhor qualidade de vida, sem deixar ninguém para trás.

A transformação se refere a mudanças nas formas como os alimentos são produzidos, distribuídos, acessados, consumidos e descartados. Para isso, é essencial promover práticas agrícolas sustentáveis. Além de adaptar os sistemas de produção de alimentos às mudanças climáticas, desenvolver variedades de culturas resistentes ao estresse climático, melhorar a gestão de recursos naturais. Assim como, reduzir as emissões de gases de efeito estufa associadas à produção e distribuição de alimentos.

Todas essas condições são fundamentais para se alcançar a segurança alimentar e promover sistemas alimentares sustentáveis. Mas, o contexto da fome e subnutrição em que nos encontramos demanda urgência.

É preciso acelerar a transformação dos sistemas agroalimentares para libertar o mundo da fome, da insegurança alimentar e da desnutrição em todas as suas formas até 2030.

Principais fontes

Fontes:
FAO, IFAD, UNICEF, WFP e WHO. 2024. O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2024. Roma, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.4060/cd1254en
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD Contínua, 2024. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/39838-seguranca-alimentar-nos-domicilios-brasileiros-volta-a-crescer-em-2023

Foto: Adobe Stock

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