AgNest Day
ONDE: Fazenda Experimental AgNest – Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna – SP
26 de setembro de 2024
QUERO SABER MAISO Pantanal e o Cerrado registraram o maior número de focos de incêndio desde que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) começou a monitorar queimadas em 1988. Na Amazônia, apesar da queda no desmatamento nos últimos dois anos, o número de queimadas em 2024 só não superou os níveis atingidos nos anos 2003 e 2004.
As queimadas, agravadas pela seca que vem atingindo o país, têm produzido uma densa nuvem de fumaça que, inclusive, se espalhou pelo Brasil, encobriu o céu e afetou a qualidade do ar, com consequências para a saúde das pessoas.
Sem dúvida, estamos diante de um contexto muito alarmante que impacta o planeta e representa um risco para a saúde, especialmente de quem está mais perto das áreas de incêndios, e compromete a segurança alimentar das comunidades que ficam isoladas.
Segundo o Programa de Queimadas do INPE, entre 1º de janeiro e 23 de junho de 2024:
– O Pantanal teve 3.262 focos de queimadas, um aumento de mais de 22 vezes em relação ao ano anterior, o maior já registrado. A seca no Pantanal está apenas começando, com o pico dos incêndios esperado entre agosto e outubro. O número de queimadas até agora já superou o total de 2020, quando foram registrados 2.534 focos e um terço do bioma foi devastado.
– Na Amazônia, foram detectados 12.696 focos no mesmo período, representando um aumento de 76% em relação ao ano passado, o maior desde 2004. Apesar da queda no desmatamento nos últimos dois anos, o número de queimadas em 2024 só foi superado em 2003 e 2004.
– No Cerrado, foram detectados 12.097 focos de queimadas, um aumento de 32% em relação ao ano passado. O Mato Grosso, em particular, registrou um aumento de 85% nos focos, totalizando 2.441.
De fato, entre janeiro e junho de 2024, a maioria dos biomas brasileiros teve mais queimadas do que no mesmo período de 2023, exceto o Pampa, que foi afetado pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
Comumente, os especialistas afirmam que as queimadas na Amazônia estão ligadas ao desmatamento, onde o fogo é utilizado para “limpar áreas”. No entanto, em 2024, a queda no desmatamento combinada com o aumento das queimadas indica uma relação com a crise climática, exacerbada pela seca severa desde 2023.
Uma combinação de fatores tem sido associada ao aumento das queimadas. As alterações climáticas, o desmatamento na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal, além da atuação do El Niño que traz um período mais seco no caso das regiões Centro-Oeste do Brasil. Todos esses elementos afetam diretamente o ciclo de chuvas e o acúmulo de água no território.
Um estudo realizado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) reforça a compreensão da origem multifatorial dos incêndios na Amazônia. Nele, a combinação das práticas criminosas com as mudanças no clima é apontada como crítica para a situação de queimadas da Amazônia e dos demais biomas como Pantanal e Cerrado.
O Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) é alimentado por dez satélites. Satélites de órbita polar geram pelo menos duas imagens por dia, enquanto os geoestacionários produzem seis imagens por hora, processando mais de 200 imagens diárias do território brasileiro.
As informações capturadas são colocadas em um Banco de Dados de Queimadas (BDQueimadas), que é uma plataforma que disponibiliza, gratuitamente, dados geográficos sobre incêndios florestais no Brasil. Atualizado a cada dez minutos, o sistema tem sido crucial na divulgação de informações e no combate aos incêndios recentes no Pantanal e Cerrado.
Além dos dados em tempo real sobre focos de incêndio, risco meteorológico e áreas queimadas, o sistema oferece um acervo histórico desde 1998, útil para comparar períodos e monitorar o avanço do desmatamento.
A queima controlada refere-se ao uso do fogo para manejo e produção em atividades agropastoris e florestais, bem como para pesquisa científica, em áreas definidas. Segundo o Código Florestal, a queima controlada é permitida para: prevenção e combate a incêndios em práticas agrícolas e de subsistência por populações tradicionais e indígenas.
O emprego da queima controlada em unidades de conservação também é permitido conforme o plano de manejo aprovado pela gestão da unidade, para conservar vegetação nativa associada ao fogo. Por fim, também é possível em projetos de pesquisa científica aprovados por instituições reconhecidas e com permissão do órgão ambiental competente.
Embora legal, a queima controlada pode causar impactos negativos, como danos à saúde, degradação do solo, perda de biodiversidade e problemas na infraestrutura elétrica. Por isso, alternativas ao fogo devem ser consideradas para práticas agropecuárias sustentáveis.
Diante do contexto de queimadas em que estamos inseridos, a prática de queimas controladas para manejo, seja para pasto ou qualquer cultivo, nas áreas da Amazônia, Cerrado e Pantanal, será proibida e passará a ser criminalizada até pelo menos o final do ano.
Segundo o Observatório Europeu do Clima e da Saúde a fumaça de incêndios florestais contém altos níveis de material particulado, monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio, podendo levar a fortes efeitos tóxicos.
Além disso, a exposição à fuligem em áreas ao redor de um incêndio florestal pode causar irritação nos olhos e na pele (queimaduras e ferimentos) e levar ao início ou exacerbar doenças respiratórias agudas e crônicas.
Para reduzir os impactos das queimadas em áreas povoadas, algumas medidas incluem: planejamento do uso do solo, reduzindo a expansão urbana em áreas florestais; regulamentação dos usos de terras; promoção de cobertura de terra com baixos níveis de risco de incêndio e sistemas de integração lavoura, pecuária e floresta.
DE OLIVEIRA, G.; MATAVELI, G.; STARK, S.C. et al. Increasing wildfires threaten progress on halting deforestation in Brazilian Amazonia. Nature Ecology & Evolution, v. 7, p. 1945–1946, 2023. DOI: https://doi.org/10.1038/s41559-023-02233-3 .
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Queima controlada. Disponível em: https://www.gov.br/ibama/pt-br/assuntos/fiscalizacao-e-protecao-ambiental/incendios-florestais/queima-controlada . Acesso em 16 de setembro de 2024.
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Programa Queimadas. Disponível em: https://terrabrasilis.dpi.inpe.br/queimadas/situacao-atual/situacao_atual/ . Acesso em: 16 de setembro de 2024.
SGB - Serviço Geológico do Brasil. Bacia Amazônica 2023/2024. Disponível em: https://www.sgb.gov.br/bacia-amazonica-2023-2024. Acesso em: 16 de setembro de 2024.
CENSIPAM – Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia. Censipam alerta sobre seca crítica em 14 estações de monitoramento do Norte do país. Disponível em: https://www.gov.br/censipam/pt-br/noticias/censipam-alerta-sobre-seca-critica-em-14-estacoes-de-monitoramento-do-norte-do-pais. Acesso em: 16 de setembro de 2024.
Foto: Adobe Stock
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