Meio Ambiente

Meio Ambiente / 16/09/2024

Amazônia viva: um caminho decisivo para um futuro sustentável

Sustentabilidade, biodiversidade e desenvolvimento alinhados aos ODS

No dia 5 de setembro, celebramos o Dia da Amazônia, uma ocasião fundamental para refletirmos sobre a preservação da maior floresta tropical do mundo. Estendendo-se por 6,7 milhões de km² e abrangendo oito países (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela) mais a Guiana Francesa, a Amazônia continua a ocupar uma posição central no debate sobre a sustentabilidade global. O papel essencial da floresta na regulação do clima e na preservação da biodiversidade a coloca no centro das discussões sobre o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.

No Brasil, a Amazônia Legal, como é conhecida, compreende todo o território dos 9 estados que compõem a região: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Tocantins e parte do Maranhão. Com extensão de 5.015.067,749 km², representa 58,9% do território brasileiro. Já o Bioma Amazônia, é delimitado, majoritariamente, pelas porções desses estados ocupadas pela floresta tropical, compreendendo 4.196.943 km² e corresponde a 40% do território nacional. Assim, estados como Mato Grosso e Tocantins, por exemplo, têm grande parte de seu território inserido no Bioma Cerrado. No Maranhão, predomina o Bioma Caatinga.

A Amazônia e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

A preservação da Amazônia está intimamente ligada a diversos ODS, como a ação contra a mudança global do clima (ODS 13), vida terrestre (ODS 15), água potável e saneamento (ODS 6) e trabalho decente e crescimento econômico (ODS 8). Garantir a sustentabilidade da floresta significa promover um equilíbrio entre desenvolvimento econômico, inclusão social e proteção ambiental.

Mudanças climáticas e o papel da floresta

A Amazônia é um dos maiores reguladores climáticos do planeta. A Amazônia legal é um mosaico de ambientes florestais e savânicos manejados por povos originários há mais de 10 mil anos. Maior estoque tropical de carbono do mundo, armazena 120 bilhões de toneladas de carbono acima do solo, equivalente a doze vezes as emissões anuais resultantes das atividades econômicas globais. Também é responsável por reciclar entre 6,3 e 7,4 trilhões de metros cúbicos de água por ano através dos chamados “rios voadores”.

A preservação da floresta é essencial para mitigar as mudanças climáticas e reduzir a emissão de gases de efeito estufa, alinhando-se com as metas climáticas globais para manter o aquecimento abaixo de 1,5°C.

Promover práticas sustentáveis, como o manejo florestal e a agricultura regenerativa, não só contribuem para a manutenção da biodiversidade, como também melhoram a segurança alimentar e a resiliência climática das comunidades locais. Isso contribui diretamente para o ODS 13.

Serviços ecossistêmicos e a preservação hídrica

A Amazônia é um repositório essencial de serviços ecossistêmicos, como a regulação do ciclo da água e a preservação da biodiversidade. A floresta abriga cerca de 20% da água doce do mundo e desempenha um papel vital no equilíbrio hídrico global. O ODS 6 (Água potável e saneamento) sublinha a importância dos recursos hídricos, e a preservação da floresta ajuda a garantir a qualidade e a quantidade da água disponível, além de proteger contra erosão e assoreamento dos rios.

Biodiversidade e inovações biotecnológicas

Com mais da metade das espécies conhecidas de plantas e animais, a Amazônia é um tesouro biológico inestimável. Explorar essa biodiversidade de forma sustentável pode gerar inovações importantes em biotecnologia, cosmética e produtos farmacêuticos, alinhando-se ao ODS 15 (Vida terrestre). A preservação dessa riqueza biológica proporciona novas oportunidades de desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo que protege os ecossistemas e gera empregos para as populações locais.

Populações tradicionais e desenvolvimento sustentável

A Amazônia Legal também é o lar de cerca de 28 milhões de pessoas, muitas delas pertencentes a comunidades indígenas e tradicionais, que dependem diretamente dos recursos florestais. Estas populações têm conhecimento acumulado sobre a floresta, essencial para a promoção de uma gestão sustentável dos recursos. As práticas de extrativismo sustentável, como a coleta de óleos, resinas e frutos, são exemplos de como o uso racional dos recursos pode garantir a preservação da floresta e a melhoria das condições de vida das comunidades, alinhando-se ao ODS 1 (Erradicação da pobreza) e ODS 10 (Redução das desigualdades).

Ecoturismo: uma alternativa sustentável

O ecoturismo é uma atividade econômica com grande potencial na Amazônia. Quando bem planejado, o ecoturismo pode ser uma ferramenta poderosa para a conservação da floresta e o desenvolvimento econômico, gerando empregos e renda para as comunidades locais. O ecoturismo está em sintonia com o ODS 8 (Trabalho decente e crescimento econômico), ao promover a valorização da cultura local e a conscientização sobre a importância da preservação dos ecossistemas naturais.

Manejo sustentável e certificação florestal

A exploração racional e certificada da madeira amazônica, com a devida qualificação da mão de obra, pode contribuir para o desenvolvimento econômico sustentável da região. A certificação florestal garante que os produtos madeireiros sejam provenientes de práticas de manejo que respeitam o meio ambiente e trazem benefícios sociais para as populações locais. Isso está alinhado com o ODS 12 (Consumo e produção sustentáveis), promovendo uma economia mais justa e sustentável.

Exploração madeireira sustentável e certificação florestal

A Amazônia é uma das maiores produtoras de madeira tropical no mundo, com mais de 350 espécies de árvores usadas comercialmente. A exploração madeireira desordenada, porém, causa desperdício e degradação ambiental. A exploração madeireira sustentável, certificada por padrões de manejo florestal, é uma solução que minimiza os impactos ambientais e maximiza os benefícios econômicos e sociais, em alinhamento com o ODS 12 (Consumo e produção sustentáveis).

A certificação florestal garante que os produtos madeireiros são provenientes de práticas que respeitam o meio ambiente, geram o dobro de empregos comparados à agropecuária extensiva e proporcionam salários até quatro vezes maiores. Assim, a exploração racional da madeira promove o crescimento econômico sustentável e qualifica a mão de obra local, contribuindo diretamente para o ODS 8.

Agricultura: desafios e alternativas sustentáveis

A agricultura extensiva, baseada no sistema de corte e queima, é uma prática comum na Amazônia, mas que tem um impacto significativo no desmatamento e na degradação do solo. O retorno econômico da agricultura extensiva é baixo, apenas 10%, comparado aos 71% da exploração madeireira sustentável, segundo o IPAM. Práticas agrícolas mais sustentáveis, como a intensificação agrícola e a recuperação de áreas degradadas com sistemas integrados produtivos, são alternativas viáveis que reduzem a pressão sobre a floresta e contribuem para o ODS 2 e o ODS 13 e ODS 15.

Pecuária extensiva e pressão sobre a floresta

A pecuária extensiva é uma das principais causas de desmatamento na Amazônia, gerando um retorno econômico de apenas 4%. Comparada à exploração madeireira sustentável, a pecuária extensiva apresenta desvantagens em termos de geração de emprego e arrecadação tributária. A adoção de práticas pecuárias mais intensivas e sustentáveis, com manejo adequado dos solos, implementação de técnicas como Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta, permitiria aumentar a produtividade sem desmatamento adicional, ajudando a reduzir a pressão sobre a floresta e contribuindo para o ODS 15.

Movimento Impacto Amazônia: uma Iniciativa para a conservação e desenvolvimento sustentável

Com o objetivo de promover a conservação da Amazônia, o Pacto Global da ONU – Rede Brasil criou a iniciativa Movimento Impacto Amazônia. A iniciativa pretende fortalecer o papel em rede, onde empresas, governos, organizações não-governamentais e comunidades locais buscam promover soluções sustentáveis e inovadoras para a proteção da floresta.

O Movimento Impacto Amazônia vem trabalhando na construção de uma trilha de conhecimento sobre conservação e inovação na região, estabelecendo compromissos com setores chave alinhados às legislações ambientais. Além disso, dispõe de uma ferramenta para as empresas identificarem seu estágio no combate ao desmatamento e apoiarem projetos de bioeconomia e restauração de áreas degradadas, com protagonismo de comunidades locais, a fim de construírem e promoverem o desenvolvimento sustentável.

O monitoramento se dará por meio do Observatório 2030 da Rede Brasil do Pacto Global, que coletará dados públicos (relatórios integrados, registro público de emissões do GHG Protocol, CDP, entre outros).

Perspectivas

Proteger a Amazônia viva é essencial para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e garantir um futuro equilibrado para o planeta. A exploração sustentável de recursos, como madeira, agricultura e pecuária, pode proporcionar benefícios econômicos significativos, preservando ao mesmo tempo os ecossistemas e melhorando a qualidade de vida das populações locais. Investir em práticas sustentáveis, como manejo florestal, intensificação agrícola e pecuária sustentável, é um passo crucial para que a Amazônia continue desempenhando seu papel vital na regulação climática global, na conservação da biodiversidade e no suporte às comunidades locais.

Confira o infográfico e ajude e entenda a importância da Amazônia viva como um caminho decisivo para um futuro sustentável.

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Principais fontes

Fontes:
Amazônia 2030. Fatos da Amazônia. Março, 2021. Disponível em: https://www.amazonia2030.org/fatos-da-amazonia. Acesso em: 9 set. 2024.
Baker, J. C. et al. (2021). Evapotranspiration in the Amazon: spatial patterns, seasonality, and recent trends in observations, reanalysis, and climate models. Hydrology and Earth System Sciences 25(4):2279-2300. Disponível em: https://hess.copernicus.org/articles/25/2279/2021/ Acesso em: 9 set. 2024.
BROUWER, R.; PINTO, R.; DUGSTAD, A.; NAVRUD, S. The economic value of the Brazilian Amazon rainforest ecosystem services: a meta-analysis of the Brazilian literature. PLoS ONE, [S.l.], v. 17, n. 5, p. e0268425, 2022. Disponível em:
https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0268425 . Acesso em: 9 set. 2024.
GATTI, L. V. et al. Amazonia as a carbon source linked to deforestation and climate change. Nature, v. 595, p. 388-393, 2021. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41586-020-03158-3 . Acesso em: 9 set. 2024.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Amazônia Legal. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/geociencias/dados-geociencias/carteiras-tematicas/amazonia-legal . Acesso em: 9 set. 2024.
IPAM Amazônia. A importância das florestas em pé. Disponível em: https://ipam.org.br/amazonia/a-importancia-das-florestas-em-pe/. Acesso em: 9 set. 2024.
Movimento Impacto Amazônia. Pacto Global da ONU – Rede Brasil. Disponível em: https://www.impactoamazonia.org/pacto-global-da-onu-rede-brasil/. Acesso em: 9 set. 2024.
Observatório do Clima. Análises das emissões de gases de efeito estufa e suas implicações para as metas climáticas do Brasil. 2023. Disponível em: https://observatoriodoclima.com.br/seeg/. Acesso em: 9 set. 2024.
Policy Brief Science Panel for the Amazon. Impactos humanos nas emissões de carbono & perdas nos serviços ecossistêmicos: a necessidade de restauração e financiamento climático inovador para a Amazônia. Disponível em: https://www.theamazonwewant.org/impactos-humanos-nas-emissoes-de-carbono/. Acesso em: 9 set. 2024.
RÖDIG, E. et al. The importance of forest structure for carbon fluxes of the Amazon rainforest. Environmental Research Letters, [S.l.], v. 13, n. 5, p. 054013, 2018. Disponível em: https://iopscience.iop.org/article/10.1088/1748-9326/aabd4d. Acesso em: 9 set. 2024.
Foto: Adobe Stock

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